HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia mieloide crônica (LMC) é uma neoplasia mieloproliferativa crônica caracterizada pela presença da proteína de fusão BCR-ABL1. O tratamento com inibidores de tirosina quinase (ITKs) alterou significativamente o curso natural da doença e melhorou os desfechos clínicos, sendo o imatinibe (1ª geração) a terapia de primeira linha. O dasatinibe, um ITK de 2ª geração, é comumente utilizado em casos de resistência ou intolerância ao imatinibe. Embora, em geral, seja bem tolerado, efeitos adversos hematológicos graves, como a aplasia medular, são raros e pouco descritos na literatura.
Descrição do casoPaciente do sexo masculino, 35 anos, foi diagnosticado com leucemia mieloide crônica (LMC) em fase crônica no ano de 2014, apresentando leucocitose significativa ao diagnóstico. Iniciou tratamento com imatinibe 400 mg/dia, com obtenção de resposta molecular maior durante os dois primeiros anos. No entanto, abandonou o seguimento e permaneceu um ano sem uso da medicação. Em 2017, retornou ao serviço médico com sinais de progressão hematológica, ainda em fase crônica, sendo reiniciado o uso de imatinibe. Em 2018, houve novo abandono terapêutico, permanecendo sem tratamento por período prolongado. O paciente retornou ao acompanhamento médico em 2023, ainda em fase crônica, porém com 13% de blastos circulantes. Reiniciou-se o imatinibe, mas, após três meses de uso, não houve resposta hematológica satisfatória. Diante da refratariedade, optou-se pela introdução do dasatinibe 100 mg/dia. No início do uso de dasatinibe, o hemograma não apresentava citopenias relevantes. Contudo, após aproximadamente um mês de tratamento, o paciente evoluiu com plaquetopenia severa, neutropenia e quadro infeccioso associado, sendo internado para investigação. Na ocasião, o estudo da medula óssea revelou hipocelularidade acentuada, com celularidade estimada em torno de 5% e ausência de células atípicas, achados compatíveis com mielotoxicidade relacionada à terapia. A contagem de reticulócitos foi de 6.200/μL, corroborando o diagnóstico de aplasia medular. O dasatinibe foi prontamente suspenso, sendo instituídas medidas clínicas de suporte. Apesar da suspensão do ITK, o paciente manteve-se com citopenias importantes, evoluindo para pancitopenia, com necessidade de suporte transfusional diário e uso de fator estimulador de colônias de granulócitos (G-CSF). Diante da mielotoxicidade prolongada e da intolerância ao uso de inibidores de tirosina quinase, optou-se pela indicação de transplante alogênico de medula óssea.
ConclusãoEste caso destaca a relevância do seguimento contínuo em pacientes com LMC e da vigilância ativa para eventos adversos hematológicos graves associados ao uso de inibidores de tirosina quinase de segunda geração, como o dasatinibe. A aplasia medular, embora rara, deve ser considerada no diagnóstico diferencial em casos de pancitopenia durante o uso dessas medicações. A identificação precoce e a suspensão imediata do fármaco são fundamentais para o manejo adequado e possível reversão do quadro. Em caso de mielotoxicidade persistente, a despeito da suspensão do ITK, e diante do risco iminente de progressão para fase blástica, deve-se considerar precocemente a indicação de transplante de medula óssea como estratégia terapêutica potencialmente curativa.




