O presente trabalho busca realizar uma análise retrospectiva dos fatores associados às reações transfusionais imediatas (RTIs) ocorridas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu nos anos de 2020 e 2021 durante a pandemia de COVID-19.

Os dados pertinentes foram coletados através dos formulários de notificação à ANVISA das reações transfusionais ocorridas nos anos de 2020 e 2021 (período de pandemia de COVID-19) juntamente com dados dos pacientes disponíveis no sistema informatizado do hospital HCFMB (idade, gravidade da reação, sexo, ano de ocorrência, tipo de reação, tipo de hemocomponente, quantidade, transfusão realizada no passado, COVID-19 nos últimos 3 meses da reação e diagnóstico clínico de admissão).

No ano de 2020 foram transfundidos 12.394 hemocomponentes e foram notificadas 48 RTIs, acarretando em uma incidência de 0,39%. Em 2021 foram transfundidos 11.658 hemocomponentes e foram notificados 36 RTIs, incidência de 0,31%. Através da análise dos dados obtidos, foi possível observar que a RT febril não hemolítica foi a mais recorrente 47 (56%), seguida da RT alérgica 28 (33%) e da RT por sobrecarga volêmica 9 (11%). A maioria das RTIs foram classificadas como leves 75 (89%) e ocorreram principalmente em adultos de 30 a 59 anos 35 (41%). Observou-se associação estatisticamente significativa entre a gravidade e o tipo de RTI (p ≤ 0,05), gravidade com a faixa etária (p = 0.02) e correlação entre o tipo do hemocomponente recebido e o tipo de RTI (p = 0.004).

Em concordância com os dados disponíveis na literatura, foi observado a maior ocorrência da RTI febril não hemolítica, o que pode ser justificado principalmente pela presença de leucócitos e citocinas pró-inflamatórias nos hemocomponentes que não passaram pelo processo de filtração. Ademais, verificou-se a associação entre a gravidade e o tipo de reação, uma vez que, algumas RTI possuem maior gravidade que outras. A correlação entre a gravidade da RTI e a faixa etária do paciente também foi observada no estudo, mostrando que pacientes idosos (60 anos ou mais) possuem reações moderadas e graves com maior frequência do que as demais faixas etárias, o pode estar relacionado com a maior suscetibilidade atrelada ao processo de senescência biológica. A correlação entre o tipo de hemocomponente recebido e o tipo da RTI também se sustenta, ao passo que algumas RTIs ocorrem com maior frequência quando o paciente recebe um determinado hemocomponente, como por exemplo a maior ocorrência de RTI alérgica associada com a transfusão de concentrado de plaquetas.

Com base no estudo realizado foi possível identificar uma incidência média de RTIs de 0,35% para os anos de 2020 e de 2021. A RTI mais recorrente foi a febril não hemolítica que corrobora com dados prévios da literatura, pois também podem estar associados a fatores intrínsecos do receptor. A maioria das RTIs foram leves e acometeram principalmente adultos. Observou-se associações entre gravidade e tipo da reação, gravidade e a faixa etária e entre o tipo do hemocomponente recebido e o tipo da RTI.