HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosAs neoplasias mieloproliferativas (NMPs) constituem um grupo heterogêneo de doenças clonais caracterizadas pela proliferação descontrolada de células hematopoiéticas diferenciadas. Mutações nos genes JAK2, CALR e MPL desempenham um papel fundamental na patogênese da mieloproliferação e de suas consequências. Características clínicas, como a significativa predisposição à trombose, destacam a importância de um monitoramento clínico rigoroso, uma vez que os eventos trombóticos arteriais e venosos representam importantes causas de morbidade e mortalidade. Estudos epidemiológicos em pacientes com NMP no Brasil são escassos, o que ressalta a necessidade urgente de avanços na caracterização e compreensão dos mecanismos vasculares, celulares e moleculares envolvidos na patogênese da trombose.
ObjetivosCaracterizar as tromboses arteriais e venosas em pacientes com neoplasias mieloproliferativas (NMPs) acompanhados em um único centro terciário de tratamento no Brasil.
Material e métodosEste estudo observacional e retrospectivo foi realizado em um único centro de referência para o tratamento de pacientes com neoplasias mieloproliferativas (NMPs). Foram analisados dados sociodemográficos, clínicos e laboratoriais de 231 pacientes diagnosticados com policitemia vera (PV), trombocitemia essencial (TE) e mielofibrose primária (MFP). O objetivo do estudo foi caracterizar a natureza dos eventos trombóticos, determinar os territórios vasculares mais frequentemente acometidos e identificar os fatores de risco cardiovasculares e mutações iniciadoras mais prevalentes.
ResultadosDos 231 participantes, 79 foram diagnosticados com policitemia vera (PV), 76 com trombocitemia essencial (TE) e 76 com mielofibrose primária (MFP). Os grupos estavam uniformemente distribuídos, e a idade mediana foi de 67 anos (amplitude: 16 a 92 anos; p = 0,0366). Um total de 154 pacientes (58%) era do sexo feminino, e 154 pacientes (68%) apresentavam a mutação JAK2V617F. As tromboses arteriais foram as intercorrências mais frequentes em todos os grupos, sendo o acidente vascular cerebral isquêmico e o infarto agudo do miocárdio os eventos clínicos mais comuns antes ou no momento do diagnóstico da NMP. A hipertensão arterial sistêmica e a dislipidemia foram os fatores de risco cardiovascular mais frequentemente observados. Neste estudo, a mutação JAK2V617F, a mutação CALR e a leucocitose >10x103/mm3 não estiveram associadas a um aumento no risco de trombose. No entanto, a mutação JAK2V617F esteve significativamente associada à leucocitose >10x103/mm3 (p = 0,02). O risco relativo de trombose no grupo com MFP pré-fibrótica e mutação JAK2V617F foi 2,1 vezes maior do que no grupo com TE. O risco relativo de trombose em pacientes com MFP pré- fibrótica foi 91 vezes maior do que no grupo com MFP fibrótica.
Discussão e conclusãoOs dados sociodemográficos, clínicos e laboratoriais dos participantes deste estudo clínico são consistentes com os achados da literatura. Surpreendentemente, nesta coorte, a mutação JAK2V617F não esteve associada à trombose, reforçando a etiologia multifatorial das tromboses. Dois achados relevantes e previamente pouco explorados são destacados: a alta prevalência de eventos arteriais, que exige estratégias agressivas de prevenção primária e a necessidade de estratificar o risco trombótico e monitorar os fatores de risco cardiovascular não apenas em pacientes com PV e TE mas também em indivíduos com MFP pré-fibrótica, que frequentemente são estratificados apenas com base no risco de evolução clonal.




