HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO transplante de células hematopoiéticas (TCTH) alogênico continua sendo considerado terapia potencialmente curativa para leucemia mieloide aguda (LMA) de risco intermediário e alto. Avanços recentes resultam na maior disponibilidade de doadores alternativos, possibilitando a um número maior de pacientes acesso ao TCTH alogênico.
ObjetivosAvaliar perfil epidemiológico de pacientes submetidos a TCTH alogênico para LMA com doador haploidêntico e não aparentado (compatível e com mismatch), e pontuar divergências prognósticas entre esses grupos.
Material e métodosEstudo retrospectivo, analítico e observacional realizado por meio de registro de dados de um único centro. Foram incluídos pacientes com mais de 18 anos submetidos a primeiro TCTH para LMA com doador haploidêntico e não aparentado, apresentando compatibilidade HLA 10/10 ou 9/10, no período de 2015 a 2024, no Hospital Amaral Carvalho.
ResultadosEm nosso serviço, no período determinado foram realizados 394 TCTH para LMA, dos quais, 142 pacientes foram incluídos no estudo, sendo: 76 haploidêntico, enquanto 48 e 18, tiveram doadores NAP compatível e com mismatch, respectivamente. Nesta análise o grupo NAP compatível apresentou melhores taxas de sobrevida global (72,4%), quando comparado ao NAP com mismatch (49,5%) e haploidêntico (59,6%), essa mesma tendência foi observada quando avaliada mortalidade não relacionada à recaída (MNRR): Haploidêntico 26,8%; NAP compatível 18,8%; NAP com mismatch 36,8%, ambas sem diferença estatística. A incidência de doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH) crônica e aguda foi maior no grupo com compatibilidade HLA 9/10, sendo que, a análise de DECH aguda (grau III-IV) apresenta significância estatística entre os grupos (p = 0,0165). Ademais, observamos também tendência estatística ao investigar a sobrevida livre de eventos, com as modalidades de TCTH NAP compatível, NAP com mismatch e haploidêntico apresentando as respectivas taxas, 57%, 28,1% e 44,8% (p = 0,0814). A ciclofosfamida pós transplante (PTCy) foi utilizada como profilaxia de DECH em um terço dos pacientes NAP com mismatch. Examinando apenas este grupo, aqueles que utilizaram PTCy, comparados aos que receberam metotrexato e inibidores de calcineurina, apresentaram melhores taxas de sobrevida livre de eventos (66,7%; 12,5%, p = 0,075), além de menor incidência de DECH aguda (16,7% vs 50%; p = 0,162) e DECH crônica (0% vs 41,7%; p = 0,0985).
Discussão e conclusãoNosso estudo evidenciou melhores desfechos em TCTH realizados com doadores NAP compatível, fato que reforça a importância da compatibilidade HLA doador-receptor como fator determinante nos resultados após TCTH. Uma estratégia cada vez mais adotada para mitigar possíveis complicações secundárias a incompatibilidades HLA é o uso de PTCy. Verificamos que pacientes com doadores NAP com mismatch submetidos a essa plataforma de profilaxia de DECH apresentaram melhores respostas, inclusive apresentando uma tendência estatística em sobrevida livre de eventos e DECH crônica. Cabe frisar que uma limitação do nosso estudo se dá no tempo de acompanhamento, 12 meses no grupo NAP que realizou PTCy, assim como no número reduzido de pacientes que participaram do grupo NAP com mismatch. Na ausência de doadores familiares compatíveis, em TCTH de pacientes com LMA, o uso de PTCy ganha cada vez mais espaço como estratégia de profilaxia de DECH para doadores NAP, sobretudo os com mismatch, por apresentar bons resultados, assim como demonstra este estudo.




