
As plaquetas de pacientes com síndromes hipertensivas gestacionais (SHG) são sabidamente maiores e mais ativas do que de gestantes saudáveis, o que se caracteriza por maior volume plaquetário médio (VPM). Considerando que a contagem de plaquetas por impedância elétrica, tecnologia padrão nos analisadores hematológicos automatizados, leva em consideração o tamanho das partículas contadas, esta pode sofrer influência pela presença de plaquetas de volume aumentado. Assim, resultados imprecisos ou falsamente diminuídos nas contagens de plaquetas podem ocorrer nestas situações. Assim, o objetivo desta pesquisa foi verificar a concordância entre os métodos de contagem de plaquetas por impedância (PLT-I) e fluorescência (PLT-F) em pacientes com SHG e VPM aumentado.
Material e métodosForam incluídas no estudo 87 pacientes com diagnóstico de hipertensão gestacional (n = 56) ou pré-eclâmpsia (n = 31) e com VPM superior ao valor de referência calculado para gestantes saudáveis de 11,3 fL. As pacientes foram atendidas no Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais entre março/2019 a junho/2021. Foram analisados hemogramas obtidos pelo analisador Sysmex® XN-1000, e coletados os parâmetros VPM, PLT-I e PLT-F. Para a análise de dados, foram utilizados os programas Jamovi 2.5.6 e MedCalc. Para verificar a normalidade foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk, curtose, assimetria e histogramas. O teste t para amostras emparelhadas foi usado para comparação entre os grupos. Para a concordância entre métodos, foram realizadas análises de Bland-Altman e correlação de Passing-Bablok.
ResultadosOs resultados (média (dp)) de PLT-I e PLT-F foram (187 (54,6)) e (174 (46,6)) respectivamente, havendo diferença significativa entre os mesmos (p = 0,003). Na análise de Bland-Altman, o viés estimado (média (intervalo de confiança de 95%)) foi de 13.400 (4.600 – 22.200). A análise de de Passing-Bablok não indicou desvio significante da linearidade entre as metodologias, com médio grau de correlação entre as mesmas (R de Pearson: 0,676; p < 0,01).
DiscussãoA PLT-F é realizada em canal óptico exclusivo para a contagem de plaquetas, com um corante para componentes específicos plaquetários, como mitocôndrias e RNA mensageiro citosólico, o que confere a esta metodologia elevada especificidade. No presente estudo, foi observado que embora não haja desvio significativo da linearidade entre os métodos de PLT-I e PLT-F, o viés estimado pode chegar a valores acima de 20.000. Tal diferença é considerada clinicamente relevante no que se refere à quantidade de plaquetas, principalmente em pacientes com pré-eclâmpsia, em que a plaquetopenia é um achado frequente, e esta pode estar associada a maior gravidade da doença e desfechos negativos. Apesar da PLT-F ser o método mais confiável para contagem de plaquetas, principalmente nos casos de trombocitopenia, condição frequente na PE, tal método não está disponível em todos os analisadores, o que limita seu uso. Assim, é conclui-se que em pacientes com SHG, é recomendado confirmar contagens baixas de plaquetas com uma segunda metodologia, já que a presença de plaquetas grandes pode impactar significativamente a PLT-I.
ConclusãoHouve diferença significativa entre as contagens de plaquetas PLT-I e PLT-F para gestantes com SGH e VPM aumentado. O viés entre as duas metodologias é clinicamente significante, indicando a necessidade de confirmar contagens baixas de plaquetas com um método alternativo nestes casos.