
Alterações em parâmetros laboratoriais são descritos na infecção por SARS-Cov-2. O objetivo deste trabalho foi analisar o comportamento de parâmetros do hemograma em relação a infectividade do vírus determinada pelo número de ciclos (CT) do PCR, realizados em um laboratório de referência no período de fevereiro a junho de 2020.
Material e métodosForam incluídos 1.218 portadores de SARS-Cov-2 detectados por RT-PCR (plataformas Roche 6800, Cepheid, protocolo Charité e kit Xgen), e 828 controles (síndromes gripais com RT-PCR negativo para SARS-Cov-2). O hemograma foi realizado no equipamento XN-10 (SYSMEX) com revisão em lâmina e foram analisados os seguintes parâmetros: nível de hemoglobina (Hb), número de eritroblastos, leucócitos totais, neutrófilos, linfócitos, eosinófilos, desvio a esquerda (presença de metamielócitos), número de linfócitos atípicos e níveis plaquetários. Os pacientes foram divididos em grupos a partir do CT: grupo 1 (1 a 20), grupo 2 (21 a 30), grupo 3 (31 a 40) e grupo 4 (> 40). Para comparação entre grupos foram utilizados os testes ANOVA ouKruskal-Wallis e comparações múltiplas pelos testes de Tukey e Dunn.
ResultadosDas 1.218 amostras de infectados, 322 pertenciam ao grupo 1 (alta carga viral), 554 ao grupo 2 (moderada carga viral), 328 ao grupo 3 (baixa carga viral) e 14 ao grupo 4 (muito baixa carga viral). Houve diferença significativa entre todos os parâmetros de hemograma com exceção do número de eritroblastos em relação a todos os grupos (controle e infectados em diferentes grupos de CT). A taxa de Hb foi menor nos grupos 2 e 3 em relação ao controle. O número de leucócitos foi menor no grupo 1 e 2 em relação ao controle, e o número de neutrófilos e leucócitos foram menores no grupo 1 em relação a 2 e 3. O número de linfócitos foi menor em 1, 2 e 3 em relação ao controle, sendo menor no grupo 1 e 2 em relação ao 3. O número de eosinófilos foi menor nos grupos 1, 2 e 3 em relação ao controle sendo menor nos grupos 1 e 2 em relação a 3 e 4. A contagem plaquetária dos grupos 1 e 2 foi menor em relação ao grupo controle e apresentaram menores taxas em relação aos demais grupos de infectados.
DiscussãoOs parâmetros laboratoriais do hemograma mostraram padrão semelhante ao observado em várias infecções virais com queda de Hb, leucócitos, eosinófilos e plaquetas nas fases com maior carga viral, com posterior recuperação destes parâmetros. Entretanto, salienta-se que o grupo controle foi constituído por pacientes com síndrome gripal não SARS-Cov-2, e, assim, é possível considerar que o grupo de infectados peloSARS-Cov-2mostrou alterações mais significativas do hemograma desde o momento de alta carga viral até a recuperação em relação ao grupo controle SARS-Cov-2 negativo. Estes dados refletem a fase inicial da pandemia durante a qual as linhagens predominantes foram B.1.1.28 e B.1.1.33 e na ausência de imunização vacinal.
ConclusãoConcluímos que ao se comparar os resultados laboratoriais de pacientes infectados pela primeira cepa do vírus SARS-Cov-2, esses apresentaram maiores tendências a queda dos parâmetros hematológicos durante o período com maior CV em comparação a infecções por outros agentes etiológicos causadores de síndrome gripal.