
A Pesquisa de Anticorpos Irregulares (PAI) é um teste laboratorial realizado no acompanhamento de gestantes, com a finalidade de verificar a aloimunização eritrocitária através da demonstração da presença de aloanticorpos. Os resultados fundamentam decisões clínicas na assistência à gestante e ao bebê antes ou após o seu nascimento. A rotina pré-natal habitual recomenda a realização da PAI em gestantes Rh negativas. Já a Rotina Maternidade pós-nascimento inclui este teste para todas as mulheres, sejam elas Rh negativas ou Rh positivas. O objetivo desse estudo foi de demonstrar através do levantamento de dados da Rotina Maternidade pós-nascimento, a relevância da PAI em gestantes Rh positivas na rotina pré-natal.
MétodoLevantamento de dados em sistema informatizado dos testes realizados na rotina maternidade pós-nascimento no período de junho/2023 a junho/2024 em dezoito hospitais atendidos pelo Grupo GSH.
ResultadosNo período analisado foram realizados 53.492 atendimentos a Rotina Maternidade pós-nascimento. Desses, 2.693 (5% das amostras testadas) apresentaram resultado PAI positiva. Considerando apenas os resultados de PAI positiva, em 2485 amostras foi identificado aloanticorpo com especificidade anti-D (92,28% dos testes positivos), dos quais 20 amostras apresentaram associação com outros anticorpos. Dentre as outras identificações (7,72% das amostras positivas) foram identificados aloanticorpos com especificidade anti-M (61 amostras – 2,27%), anti-E (61 amostras – 2,27%), anti-c (24 amostras – 0,89%), anti-Lea (23 amostras – 0,85%), anti-Dia (14 amostras – 0,52%), anti-C (5 amostras – 0,19%), anti-K (4 amostras – 0,15%), anti-e (01 amostra – 0,04%) e outros antígenos somaram 52 amostras (1,93%). A conclusão da identificação somente não foi possível em 01 amostra (0,04%).
DiscussãoExiste grande preocupação relacionada à aloimunização materna pelo antígeno “D”do Sistema Rh devido seu alto poder imunogênico e potencial de hemólise com manifestações clínicas importantes, e é segundo a literatura o anticorpo com o maior número de identificações. Entretanto, a aloimunização por outros antígenos eritrocitários pode ocorrer e as consequências clínicas dependem das características do anticorpo desenvolvido e também de outros fatores. Anticorpos dos sistemas Rh e Kell, por exemplo, podem ocasionar manifestações clínicas importantes ao feto e, inclusive causar também a Doença Hemolítica Perinatal (apesar de ser mais raro). A presença dessa incompatibilidade entre mãe e bebê pode levar à necessidade de transfusões intrauterinas, exsanguineotransfusão, fototerapia e até prolongar a internação do recém-nascido. Com isso, o presente estudo sugere que a inclusão da Pesquisa de Anticorpos Irregulares na Rotina Pré-Natal para mulheres Rh positivas mostra-se relevante.
ConclusãoA implementação da Pesquisa de Anticorpos Irregulares em todas as gestantes, independentemente do resultado ABO/Rh, possibilita a detecção precoce de outros aloanticorpos potencialmente envolvidos em Doença Hemolítica Perinatal e pode auxiliar na tomada de decisões assistenciais à mãe e ao bebê.