
Identificação da etiologia de aloimunização para antígeno Kell em paciente politransfundida.
Material e métodosRealizados testes pré transfusionais em paciente politransfundida. A partir da identificação de pesquisa de anticorpos irregulares positivo, realizado estudo imunohematológico complementar que evidenciou aloimunização anti-K. Realizada revisão da fenotipagem de todos os hemocomponentes transfundidos.
ResultadosPaciente sexo feminino, 17 anos, tem durante a internação diagnóstico de Leucemia Linfocítica Aguda. Nos primeiros 15 dias de internação apresentou demanda transfusional de 8 bolsas de concentrado de hemácias e 12 bolsas de plaquetas por aférese. Desde o primeiro atendimento hemoterápico foi realizada a fenotipagem estendida e as transfusões obedeceram a sistema Rh e Kell, e irradiação. Evoluiu com neutropenia febril, rash cutâneo, e instabilidade hemodinâmica. Em 17/10/22 apresentou hemocultura positiva para Streptococcus galoliticus sp. Em 22/10/2022 evidenciamos PAI positivo, TAD negativo e AC negativo. Realizado estudo imunohemtológico com identificação de anti-Kell. A fenotipagem dos doadores de todos os hemocomponentes recebidos foi repetida e todos eram de fato Kell negativo, assim como a paciente. Paciente sem histórico transfusional ou gestacional prévios. Fez uso de antibioticoterapia com Cefepime por 48 horas, suspenso por farmacodermia e iniciado Meropenem. Após 10 dias de antibioticoterapia, nova hemocultura negativa. Em 01/11/22, testes pre transfusionais com PAI negativo, e anti-Kell não detectado.
DiscussãoExcluindo os anticorpos ABO e Rh, o anticorpo anti-Kell é o mais comumente encontrado. Geralmente é produzido em resposta a exposição transfusional ou gestacional prévia. A paciente em questão não tinha histórico gestacional e todos os hemocomponentes recebidos foram Kell negativos. Geralmente o anti-Kell é da classe IgG. Anti-Kell de ocorrência natural são raros e geralmente da classe IgM, e associados a infecções, podendo desaparecer após a resolução do quadro infeccioso. Existem na literatura relatos de anti-Kell natural associados a Escherichia coli e outras bactérias Gram negativas. A paciente em questão, teve hemocultura positiva para um Sstrptococus galoliticus, na ocasião da positividade do PAI e da identificação de especificidade anti-Kell. Ao término da antibioticoterapia, com hemocultura negativa, apresentou PAI negativo e anti-Kell indetectável. O Streptococcus gallolyticus é uma bactéria coco Gram-positivo e faz parte do grupo dos Streptococcus bovis (Streptococcus ) e Streptococcus infantarius. É importante causa de bacteremia, apesar de não termos encontrado descrição em literatura da sua associação com a produção de anti-Kell natural, a evolução do caso nos faz acreditar fortemente na possibilidade dessa associação.
ConclusãoA possibilidade de que componentes bacterianos podem desempenhar um papel na produção de anticorpos de ocorrência natural direcionados contra antígenos de hemácias não ABO deve ser levada em consideração em frente a ocorrência de anticorpos eritrocitários em pacientes sem histórico transfusional e gestacional prévios.