
Relatar experiência de aplicação de questionário para avaliação da cultura de segurança do paciente em um hemocentro.
MétodosSob projeto de pesquisa aprovado pelo CEP, CAAE:46285321.8.0000.5064 os profissionais após concordância registrada em assinatura de TCLE, responderam, de forma anônima, um questionário autoaplicável, validado para o contexto de Atenção Primária em Saúde, o Medical Office Survey on Patient Safety Culture (MOSPSC). A escolha deste se justifica por assemelhar-se ao contexto da atenção ambulatorial. A pesquisa foi divulgada através de uma reunião com os coordenadores dos setores do HEMOES: laboratórios, ciclo do sangue, administrativo e ambulatório. Os objetivos foram explicados, bem como a importância de incentivar e sensibilizar os colaboradores a responder o questionário. A coleta de dados iniciou-se em novembro de 2021 e, por interrupções devido à pandemia Covid-19, finalizou em fevereiro de 2022, ocorreu em horário de trabalho e caixas lacradas foram disponibilizadas nos setores para depositar os questionários sem qualquer identificação. Após 4 semanas, um monitor verificava o número de questionários da caixa por setor e, se necessário, realizava novo estímulo para maior adesão. Para tratamento e análise descritiva dos dados, foi utilizada uma planilha em Excel®. RESULTADOS: Dos 160 funcionários do HEMOES 98 (61%) responderam ao questionário. Apesar da aparente adesão, chamou atenção o quantitativo de ausência de respostas (em branco; não se aplica ou não sei). Foi calculada a média referente aos dados ausentes para cada seção: A- Questões sobre segurança do paciente e qualidade do cuidado: 67%; B- Troca de informações com outras instituições: 80%; C-Trabalhando neste serviço de saúde: 13,5%; D-Comunicação e acompanhamento: 27,5%; E-Apoio de gestores/administradores/líderes: 21,2%; F-Seu serviço de saúde: 23,6%; G-Avaliação global: 4,6%.
DiscussãoPromover a cultura de segurança do paciente é o cerne do Programa Nacional de Segurança do Paciente no Brasil. Uma cultura de segurança fortalecida é associada ao alcance de melhores resultados em saúde. A avaliação da cultura de segurança tem sido encorajada como uma estratégia útil para auxiliar gestores a planejar e priorizar iniciativas de melhoria nos diversos contextos de prestação de cuidados de saúde. Entretanto, fortalecer a cultura de segurança descortina-se como um grande desafio: requer investimentos estratégicos, envolvimento das lideranças e da alta gestão. Considerando as particularidades dos hemocentros em atender dois tipos de cliente, quais sejam, indivíduos saudáveis (doadores) e pacientes hematológicos, o uso deste questionário atendeu parcialmente a necessidade, frente ao elevado número de dados ausentes. Possíveis explicações: I) a sua extensão, o que despende tempo, podendo acarretar impaciência do respondente, especialmente no período de sobrecarga de trabalho gerado pela pandemia; II) a ausência de um horário/local isento para o seu preenchimento, o que pode ter influenciado negativamente na acurácia das respostas, uma vez que foram respondidos durante a rotina diária; III) provável inadequação do instrumento ao contexto dos hemocentros, devido às particularidades do cliente “paciente” e “doador”, que pode ter gerado dúvidas no preenchimento.
ConclusãoAcreditamos ser fundamental promover ações para ampliar o conhecimento e a percepção em segurança do paciente. O relato de experiência de avaliação da cultura de segurança do paciente neste estudo sugere a necessidade de elaborar ou adequar uma ferramenta que contemple as especificidades do contexto de prestação de serviços de um hemocentro. Aprimorar o método de coleta de dados, ampliando estratégias de esclarecimentos e sensibilização, podem ser úteis para alcançar resultados mais acurados.