
Avaliar as indicações de Aférese terapêutica no Serviço de Hemoterapia do Hospital Servidor Público Estadual- SP.
Material e métodosEstudo observacional e retrospectivo onde revisamos os registros internos das aféreses entre 2012-22. Analisamos: total de procedimentos e tipos de aféreses terapêuticas considerando o ano, clínica solicitante, diagnóstico e a indicação segundo a ASFA/2019.
ResultadosTratamos 94 pacientes: 92 plasmaféreses (TPE), 01 eritrocitaférese e 01 leucoaférese. Quanto à clínica solicitante e patologias: NEUROLOGIA 70 casos: Neuromielite optica (NMOSD)-45, Poliradiculoneurite desmielinizante inflamatória crônica-8, Esclerose múltipla (EM)-8, Miastenia Gravis-5, Encefalite auto-imune-2 e Guillain Barret-2; HEMATOLOGIA 17 casos: Púrpura Trombocitopenica Trombótica (PTT)-9, leucoestase-1, anemia falciforme-1 e síndrome de hiperviscosidade-6; REUMATO/ENDOCRINO 4 casos: Granulomatose de Wegner-2, Lupus Eritematoso Sistêmico-1, Tireotoxicose-1; NEFROLOGIA 3 casos: Síndrome Hemolítico Urêmica-1, Glomerulonefrite rapidamente progressiva-1 e Rejeição humoral aguda de enxerto renal-1. As solicitações/ano: 2012-4; 2013-10; 2014-9, 2015-9, 2016-7, 2017-2, 2018-6, 2019-12; 2020-13, 2021-15 e 2022-7 (julho). Considerando a indicação pela ASFA: Categoria I – 40 casos e Categoria II - 54 casos (NMOSD, EM, Tempestade tireoideana e Hiperleucocitose).
DiscussãoA TPE, método terapêutico moderno e seguro, é uma ferramenta importante para o tratamento de um número crescente de patologias. O racional para seu uso segue duas premissas: a doença é decorrente de uma substância encontrada no sangue (anticorpos patológicos) e essa substância patogênica poderia ser removida a fim de permitir a resolução da doença. Na verdade, os efeitos imunomodulatórios não são completamente conhecidos. Adicionalmente, postula-se que ela possa: aumentar a resposta à outras terapias através da sensibilização de linfócitos B aos agentes imunosupressores; corrigir a relação das células T helper favorecendo a resposta Th1; mudar a quantidade de linfócitos (mais celulas T e menos células B); aumentar a regulação da atividade das células T reguladoras e supressoras; remover imunocomplexos; remover citocinas; repor componentes plasmáticos deficientes. No passado, os procedimentos eram quase que exclusivamente em pacientes hematológicos, especialmente àqueles com PTT, todavia nossa casuística chama a atenção ao crescente número de solicitações nos últimos 5 anos (57% dos casos), liderados pela Neurologia (85% dos casos). Doenças neurológicas autoimunes como NMOSD e EM têm demandado a TPE como parte do tratamento. São doenças com baixa prevalência, diagnóstico diferencial difícil e com casuística pequena. Apesar da categoria II para ataques agudos/recaída, a depender da fase evolutiva ou forma de apresentação, a TPE tem sido usada de forma crescente no HSPE com resultados promissores. 58% dos nossos procedimentos foram executados em doenças de categoria II (aceito como segunda linha ou terapia adjuvante) e 42% de categoria I (aceito como primeira linha de tratamento).
ConclusãoA TPE é uma terapia valiosa para muitas doenças, indiscutivelmente da categoria I. Entretanto casos categorizados como II ou III devem ser individualizados já que há pouca evidência na literatura em alguns cenários. No HSPE, ela tem ajudado também em doenças neurológicas auto-imunes categoria II. Contudo, em qualquer situação, sempre ponderar seus benefícios, riscos e custos.