
Definir a prevalência do traço falciforme em doadores de bancos de sangue privados para delineamento de intervenções futuras, quanto ao direcionamento do hemocomponente coletado.
Material e métodosEstudo multicêntrico, retrospectivo, observacional, a partir de dados extraídos do software do Grupo GSH, como quantitativo de bolsas coletadas de sangue total e doadores com traço falciforme, identificados pelo teste de solubilidade. Foi realizada a análise descritiva por meio de frequências absolutas e percentuais para cálculo da prevalência, no período de janeiro de 2020 a junho de 2022.
ResultadosO estudo envolveu 12 Bancos de Sangue localizados nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, que contribuíram com o quantitativo de 402.047 bolsas coletadas e a prevalência de traço falciforme na amostra geral de 2,12%. Na análise por regiões, a prevalência no Nordeste foi de 2,49% e no Centro-Oeste foi semelhante ao Sudeste (2%). A região Nordeste, representada por 4 Bancos de Sangue, obteve a maior prevalência de doadores com traço falciforme. Apesar da região Sudeste ter apresentado maior quantitativo de Bancos de Sangue e de bolsas coletadas, a prevalência do traço falciforme foi semelhante ao Centro-Oeste, representado por apenas um Banco de Sangue, que abrangeu um período mais curto na coleta de dados (8 meses).
DiscussãoO traço falciforme é caracterizado pela presença de hemoglobina S (HbS) em heterozigose, presente em percentual que varia de 22 a 45% da hemoglobina total. Estima-se que no mundo existam cerca de 30 milhões de portadores do traço falciforme e, no Brasil, em torno de 2 milhões. Estes indivíduos são, em grande maioria, assintomáticos e considerados aptos para doação de sangue. Desde a publicação da Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária n°153, em 4 de junho de 2004, a triagem de hemoglobinopatias tornou-se obrigatória. O sangue de indivíduos com HbS requer um direcionamento específico, pois não pode ser utilizado em pacientes com acidose grave, hemoglobinopatias, em recém-nascidos e transfusões intrauterinas e pode sofrer alterações durante o processamento e armazenamento. A prevalência do traço falciforme na amostra geral do estudo foi semelhante à encontrada na população brasileira. Quanto à região analisada, Naoum evidenciou maior prevalência na região Norte (4,49%), seguida do Nordeste (4,05%) e Centro-Oeste (3,11%) e o menor índice no Sudeste e Sul (1,87% cada região). O atual estudo reforça a maior prevalência da HbS no Nordeste das regiões analisadas, porém a semelhança no quantitativo entre as regiões Centro-Oeste e Sudeste, pode ser justificada pela diferença do período analisado.
ConclusãoA compreensão da prevalência da HbS em doadores de sangue é importante para garantia da segurança e qualidade transfusional. Além disso, projetos futuros poderão ser incentivados para melhoria da qualidade do sangue para o receptor e orientações ao doador. São necessários mais estudos para melhor caracterização do perfil dos doadores com traço falciforme no serviço privado.