
Um laboratório de referência em Imuno-hematologia, é fundamental para garantir um suporte transfusional de qualidade na elucidação de casos complexos: identificando anticorpos irregulares, realizando a fenotipagem de doadores e pacientes, selecionando e disponibilizando hemocomponentes compatíveis para a transfusão, ou seja, proporcionando uma maior segurança transfusional.
ObjetivosRelatar a implantação do Laboratório de Imuno-Hematologia no Hemonúcleo de Ponta Grossa, PR.
Relato de experiênciaNo Hemonúcleo de Ponta Grossa, no interior do Paraná, até Junho de 2022 o atendimento às requisições de transfusão incluía somente a realização de testes pré-transfusionais obrigatórios (tipagem ABO/Rh, PAI e PC) com a metodologia em tubo. Na ocorrência de alguma dificuldade transfusional, uma vez que não havia insumos e equipamentos no local para testes complementares, solicitava-se o suporte do Hemepar coordenador em Curitiba-PR, distante cerca de 120 km. Todos estes entraves geravam transtornos para o adequado atendimento às requisições de transfusão em pacientes com PAI positiva, provas cruzadas incompatíveis ou fenotipados em programa de transfusão crônica. O tempo médio para resolução da dificuldade transfusional, levando em consideração a realização dos testes em tubo, acionamento de motorista, envio de amostra, realização dos testes no Hemocentro coordenador, retorno do motorista, realização das provas cruzadas no Hemonúcleo de Ponta Grossa e liberação das bolsas à instituição solicitante era de 10‒12h (podendo chegar a mais de 24h nos fins de semana e feriados). Em Julho de 2022 houve a implantação do Laboratório de Imuno-Hematologia em Ponta Grossa, com a organização da estrutura, recebimento de equipamentos e a capacitação dos farmacêuticos-bioquímicos para a utilização da metodologia de gel centrifugação para a resolução das dificuldades transfusionais in loco, tornando-se referência em Imuno-Hematologia para duas regionais de saúde, as quais incluem 19 municípios, totalizando uma população de quase 1 milhão de pessoas.
Resultados e discussãoDesde então, entre julho de 2022 e junho de 2023 foram solucionados 118 casos de pacientes com PAI positiva e/ou provas cruzadas incompatíveis. Nesse mesmo período foram fenotipados 553 doadores. A média de casos no período foi de quase 10 por mês e a média de doadores fenotipados foi de quase 47 por mês. Após a implantação do serviço no município o tempo médio para a resolução das dificuldades transfusionais (identificação do anticorpo, fenotipagem do paciente e seleção de bolsas com fenótipos e provas cruzadas compatíveis) a partir do recebimento da amostra até a liberação para a instituição solicitante passou a ser de 2h 30 min, sendo a maioria dos casos solucionados em até 2h, resultando em um processo de atendimento muito mais célere.
ConclusãoA descentralização de atividades de maior complexidade, desde que contando com equipe capacitada, insumos, equipamentos e estrutura adequados, favorece o atendimento com maior presteza, segurança e qualidade ao paciente que necessita de transfusão de urgência. Além disso, a implantação dos laboratórios de imuno-hematologia em unidades do interior do estado promove uma maior autonomia para a tomada de decisão da equipe multiprofissional, a diminuição de custos relacionados ao transporte de amostras e é capaz de levar a formação de um banco de doadores fenotipados locais para o atendimento dos pacientes da região e de toda a hemorrede.