Este trabalho visou fomentar a atividade de captação, promover o ato de doar de sangue e intervir no resgate e/ou formação da identidade e cidadania dos adolescentes em cumprimento da medida socioeducativa de internação, por intermédio de uma ação intersetorial pautada na promoção de saúde através dos processos sociais envolvidos na doação de sangue.

Trata-se de um relato de experiência do desenvolvimento de um projeto direcionado aos adolescentes nos Centros de Atendimento Socioeducativo (CASE) de Cuiabá - MT (masculino e feminino) onde instituiu-se um Concurso de Desenhos cujo tema foi a Doação de Sangue. As oficinas foram programadas e desenvolvidas no período de 01/09/21 a 24/09/2021. Não houve determinação prévia do número de participantes e o público-alvo foi composto por adolescentes com idades entre 12 e 18 anos. Efetivaram a ação cinco profissionais do Hemocentro Coordenador de Mato Grosso e um profissional do CASE. Os encontros, presenciais e dialogados, tiveram como disparador perguntas sobre o que os adolescentes sabiam sobre doação de sangue. Os assuntos abordados foram o ciclo do sangue, a hematologia, o Sistema Único de Saúde, a violência, a saúde e a cidadania. Os desenhos que receberam as 04 melhores notas foram os vencedores do concurso.

Foram elaborados quarenta e sete desenhos. Dinamicamente, os participantes realizaram questionamentos que espelham as dúvidas mais comuns da população sobre a doação de sangue. As mais frequentes foram associadas à tatuagem, ao uso de drogas e ao jejum prolongado. O tempo necessário para efetuar uma doação após o cumprimento da medida socioeducativa também foi recorrente.

A atividade aglutinou ações de intersetorialidade, promoção e assistência à saúde e noções de cidadania. Foi muito positiva tanto a adesão quanto a participação dos adolescentes. Ocorreram trocas significativas que ressoaram tanto nos adolescentes (desenhos produzidos), quanto nos profissionais que fizeram parte da atividade. Proporcionou ainda interlocuções com a literatura na área de captação, partindo do pressuposto que haviam ali pessoas que no tempo presente apresentam condutas inaptas, mas não sujeitos impedidos definitivamente de doar sangue.

Foram instigados conceitos e valores de solidariedade, voluntariado, saúde, cuidado em saúde, responsabilidade social e cidadania. Na literatura, sobre o processo de captação de doadores de sangue, há defesas de que a informação deve possuir amplo alcance, ainda que não ocorra a procura direta das pessoas. Mesmo em situações que o candidato à doação não esteja dentro dos preceitos exigidos em legislação específica, não deve se sentir excluído de tal possibilidade. Estas reflexões podem contribuir na ampliação das possibilidades destes adolescentes em se tornarem captadores/multiplicadores, futuros doadores de sangue, e para além disto, na oportunidade por intermédio de experiências positivas, da inclusão social e de um possível (re)começo. De forma inovadora esta experiência pode estimular ações que embora sejam vistas como desafios, também pode trazer benefícios em prol do sistema hemoterápico brasileiro e da participação no processo de cidadania da população, seja ela qual for.