O Tacrolimus (TAC) é uma droga imunossupressora, pertencente ao grupo dos inibidores da calcineurina, que tem se mostrado altamente eficaz na prevenção da rejeição aguda após Transplante de Medula Óssea (TMO). No entanto, neurotoxicidade e nefro toxicidade são seus principais efeitos adversos. A Síndrome da Encefalopatia Posterior Reversível (PRES) é a consequência mais grave e dramática da neurotoxicidade dos inibidores da calcineurina. Suas manifestações incluem cefaleia, estado mental alterado, distúrbios visuais e convulsões. Embora seja uma condição pouco frequente, associada na maioria das vezes a níveis sanguíneos elevados de tacrolimus, também tem sido descrita em pacientes com níveis considerados terapêuticos.

Mulher, 18 anos, portadora de Leucemia Linfocítica Aguda Early T, realizado TMO Haploidentico, internada para tratamento de citomegalovírus com uso de Ganciclovir, em uso de TAC, evoluiu durante internação com queixas de cefaleias, tremores periféricos e convulsão, associado a insuficiencia renal e nível sérico de TAC de XX. Realizado Ressonancia Magnetica (RNM) de crânio, identificando sinais sugestivos de PRES. No contexto pós-transplante, o diagnóstico diferencial inclui infecções ou encefalite autoimune, vasculite e doenças malignas do sistema nervoso, sendo que a PRES requer um alto nível de suspeita da síndrome. É bem estabelecido que o edema vasogênico, em vez do edema citotóxico, desempenha um papel fundamental nas características de neuroimagem associadas ao TAC da PRES suportada por manifestações de RNM. No entanto, casos de coexistência de edema vasogênico e citotóxico sugerindo dano irreversível foram descritos. E embora a tomografia computadorizada possa ser usada preliminarmente para detectar lesões hipodensas de encefalopatia posterior, a RNM é o padrão-ouro para o diagnóstico dessa síndrome. Com relação especificamente ao TAC, até 40%‒60% dos pacientes transplantados imunossuprimidos com essa droga apresentam efeitos neurotóxicos leves e aproximadamente 1,6% desses pacientes podem desenvolver sintomas mais graves que compõem a PRES. O relato deste caso permitirá conscientizar hematologistas transplantadores a considerarem o rápido reconhecimento de diagnostico de PRES em pacientes com sintomatologias referenciadas acima, mesmo com uso de TAC em nível sérico adequado, mesmo que se nível sérico, já que há uma melhora clínica rápida após suspensão da medicação, prevenindo assim, o desenvolvimento de complicações ou sequelas neurológicas.