A avaliação do estado nutricional é considerada uma ferramenta importante para detectar problemas na infância e vida adulta. Agravos como anemia e déficit de altura para idade, que mostram desnutrição crônica, são indicadores de vulnerabilidade socioeconômica e de insegurança nutricional. Os principais grupos afetados pela anemia são, novamente, as crianças, e as gestantes indígenas. O objetivo do estudo foi efetuar revisão sobre estudos publicados entre 2000 e 2022 sobre anemia na população indígena brasileira.

Foram utilizadas as bases Scielo, BVS, Scopus, Embase, Web of Science, Pubmed, ScienceDirect e Scopus, usando-se termos de busca em português (para as bases Scielo e BVS) e em inglês (para as demais bases), para o período de janeiro de 2000 a novembro de 2022. Os termos usados para a busca foram: ‘anemia’ e ‘povos indígenas’, ’indígenas’ ou ’índios’. Os termos em inglês foram: ‘anemia’ e ‘indigenous people’ e ‘brazil’.

Após exclusão de artigos em duplicatas, foram encontrados 18 artigos científicos, uma tese e dois artigos de revisão. Os estudos encontrados foram efetuados com povos indígenas do Centro-oeste, Norte, Nordeste, Sul e Sudeste, predominando estudos no Norte e Centro-Oeste. Os grupos de estudo foram crianças e as respectivas mães, mulheres em idade reprodutiva ou gestantes. Apenas dois estudos avaliaram anemia em idosos. A maior parte dos estudos publicados é referente ao período de 2000 a 2010, apenas 3 estudos ocorreram após 2010. As coletas de dados foram realizadas entre 1995-2019. De todos os artigos, 17 utilizaram estudo transversal, e apenas um, que fez utilização de série temporal. Grande parte dos artigos dispôs de sangue periférico, por meio de polpa digital, como método de análise para anemia. Os estudos avaliaram indígenas de 17 etnias brasileiras. A prevalência de anemia em todas as populações estudadas foi alta, chegando a 83,3% dos participantes avaliados.

Os achados de anemia, corrobora em diversos fatores associados, como desnutrição crônica, insegurança alimentar, dificuldade no acesso à alimentação nos territórios, os quais potencializam ainda mais o risco para anemia nas populações indígenas. A carência de estudos atuais, pode ser considerada como um problema para análise e acompanhamento atual da condição nutricional dos povos indígenas, tendo em vista as crianças e mulheres, como grupos de risco, sobretudo, após 2010. A revisão conseguiu identificar muitos estudos na primeira década, porém, na segunda década houve uma diminuição na quantidade de publicações. Isso pode ser explicado, devido a uma maior burocracia em pesquisas envolvendo indígenas, ocasionando para uma maior demora nas publicações. Essa revisão mostrou diversas lacunas no conhecimento científico acerca deste tema na população indígena.

A prevalência de anemia na população indígena brasileira, em especial nas crianças e adolescentes, continua alta. Há um déficit de estudos recentes sobre anemia nos povos indígenas na literatura científica, provavelmente por viés de publicação, por dificuldade no acesso, ou ainda, por falta de interesse no tema. A alta prevalência ainda demanda políticas públicas específicas voltadas aos povos indígenas.