Aloanticorpos clinicamente significativos podem ser provenientes de transfusões de sangue incompatível ou por gestações. Sua incidência pode chegar a 30% em pacientes politransfundidos, 2% em mulheres na primeira gestação e até 6% em mulheres multigestas, representando um risco para o paciente e desafio para os bancos de sangue. Nesse contexto, determinar o perfil epidemiológico de pacientes e os principais anticorpos envolvidos, permite ao banco de sangue selecionar doadores e adequar o estoque de hemocomponentes para o atendimento, de forma mais rápida e segura.

Determinar o perfil epidemiológico, a incidência e a prevalência de aloimunização em pacientes atendidos pelo Banco de Sangue de Brasília do grupo GSH no período de um ano.

Foram incluídos no estudo pacientes com Pesquisa de Anticorpos Irregulares (PAI) positiva, dos hospitais atendidos pelo Banco de Sangue do Grupo GSH no Distrito Federal (DF), no período de junho de 2022 a junho de 2023. Os dados epidemiológicos, a ocorrência de aloimunização e os anticorpos identificados foram obtidos por análise retrospectiva de prontuários, em sistema informatizado.

No período analisado foram atendidos 2.791 pacientes, dentre os quais 141 (5,05%) apresentaram PAI positiva, tendo sido 1 excluído do estudo por falta de dados. Dos 140 pacientes analisados, 71,4% eram do sexo feminino e 28,6% do sexo masculino, com idades entre 2 meses a 99 anos, com média de 63 e mediana de 67,5 anos. A incidência de aloanticorpos antieritrocitários foi de 4,23% (118 pacientes). A prevalência dos aloanticorpos identificados foi: anti-D (29,67%) > anti-E (28,81%) > anti-C (13,56%) > anti-K (11,02%) > anti-Diª(8,46%) > anti-M (6,78%) > anti-c (5,93%) > anti-Jkª(4,24%) > Anti Fyª(3,39%) > Anti-Fyb (2,54%) > Anti-Luª(1,64%), Anti-e (0,85%) > Anti-S (0,85%) > Anti-s (0,85%) > anti-Jkb (0,85%) > Anti-Dib(0,85%). Em 34 pacientes (28,81%) foram encontradas associações de anticorpos e 22 pacientes apresentaram autoanticorpos, sendo 9 com autoanticorpos contra antígenos eritrocitários e 13 com autoanticorpos sem vínculo com qualquer sistema eritrocitário.

A incidência de aloimunização encontrada foi de 4,23%, concordante com o descrito na literatura, entre 2%–5%, sendo mais prevalente em pacientes do sexo feminino e idosos, como esperado. A prevalência dos anticorpos encontrados também coincide com os dados da literatura, sendo os principais contra os sistemas Rh, Kell e Diego. Contudo, comparados a outros estudos realizados no DF, verifica-se um índice mais elevado de aloimunização para a maioria dos sistemas, o que pode ser decorrente da diferença no número e perfil dos pacientes envolvidos.

O perfil epidemiológico dos pacientes e incidência de anticorpos eritrocitários, se mostrou dentro dos valores descritos em literatura, contudo, com valores elevados quando comparados a estudos semelhantes na mesma população. Considerando a maior prevalência de anticorpos do sistema Rh e Kell, e a disponibilidade atual de 100% dos hemocomponentes fenotipados para os dois sistemas, no Banco de Sangue de Brasília, a tendência é a queda progressiva desses índices.