As cirurgias ortopédicas vêm se tornando cada vez mais frequentes com o envelhecimento da população. Nas últimas décadas, a necessidade de transfusão nas cirurgias ortopédicas comuns como artroplastia de joelho e quadril tem variado entre 19% e 57%. Entretanto, é importante lembrar que nos últimos anos, foram desenvolvidos inúmeros esforços com objetivo de reduzir a necessidade de transfusão, como a correção de anemia pré-operatória e mudanças de técnicas cirúrgicas, além de medidas farmacológicas como a utilização de ácido trexâmico. Devido ao aumento progressivo de cirurgias ortopédicas em pacientes idosos, a prevalência de anemia pré-operatória pode ser alta em pacientes cirúrgicos, devido à idade do paciente e suas comorbidades associadas. Para se estabelecer a forma mais adequada de controle de sangramento perioperatório e prevenção de hemotransfusão, é essencial personalizar a estratégia a ser empregada no controle da perda sanguínea.

Avaliar o uso do ATX no controle de sangramento em cirurgias de artroplastia total de quadril e gerar um novo protocolo para a otimização do uso de reservas cirúrgicas de hemocomponentes, visando a preservação de estoque de sangue e diminuição de custos, promovendo também a maior segurança para a equipe cirúrgica e especialmente para o paciente.

Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo, transversal onde os dados foram coletados dos prontuários eletrônicos, através do sistema informatizado de 40 pacientes submetidos a artroplastia total de quadril cimentada devido a fratura de colo de fêmur no Serviço de Ortopedia da Santa Casa de Misericórdia de Ourinhos, no período de janeiro de 2021 a agosto de 2022. Todos os pacientes foram operados pelo mesmo cirurgião usando a mesma técnica e abordagem pela via lateral (Hardinge).A coorte total deste estudo foi dividida em 2 grupos, 20 pacientes com uso profilático de ATX e 20 pacientes como grupo controle sem uso de fármaco profilático ao sangramento. O critério de inclusão no estudo em ambos os grupos foi não possuir artrose de quadril. Seguimos um protocolo no qual o ATX é usado numa dose de ataque de 100 mg/kg de peso corporal, com dose máxima de 1g, administrada em média 30 minutos antes do início do procedimento cirúrgico. Analisando de forma individual os valores de Hb/Ht, a média do grupo com uso de ATX no período pré-operatório foi de Hb 12,0 g/dL e Ht 36,3%, e a média do pós-operatório foi de Hb 10,11 g/dL e Ht 30,67%. O grupo controle (sem o uso de ATX) apresentou mediana de Hb 13,06 g/dL e Ht 39,25% no pré-operatório e Hb 11,06 g/dL e Ht 33,41% no período pós-operatório. À primeira vista, percebemos que a média de perda volêmica pela análise laboratorial não apresentou diferença significativa entre os grupos, ambos perdendo 2 pontos de Hb e 6 pontos de Ht no pós-operatório. Porém quando analisamos estatisticamente, percebemos que a perda sanguínea (expressa pela queda do Hb/Ht no pós-operatório) no grupo em que foi administrado ATX foi menor que o encontrado no grupo controle, apresentando assim um resultado satisfatório no controle de sangramento.

O uso de ATX mostrou-se significativamente importante no controle de sangramento em artroplastia total de quadril, necessitando de uma menor taxa de transfusão sanguínea. Considerando a ausência de efeitos colaterais, a efetividade observada e o baixo custo, há uma tendência crescente no uso desse método como profilaxia de sangramento em todos os casos de artroplastia total de quadril no serviço. Estudos com o maior número de pacientes podem ajudar na incorporação definitiva desse método no protocolo de outras cirurgias.