Analisar o desempenho diagnóstico da imunofenotipagem por citometria de fluxo na detecção de tumores sólidos pediátricos em aspirados de medula óssea de pacientes em um serviço de referência.

Estudo descritivo observacional retrospectivo que analisou os resultados de imunofenotipagem por Citometria de Fluxo (CF) na identificação de tumores sólidos em aspirados de medula óssea de crianças atendidas no Hospital Pequeno Príncipe. Esses resultados foram comparados com o estudo anatomopatológico, considerado padrão ouro, quanto à concordância diagnóstica entre os métodos. Os resultados foram descritos como variáveis categóricas binárias nominais, sendo calculados sensibilidade, especificidade, valores preditivos positivos e negativos, e razões de verossimilhança. Os intervalos de confiança foram determinados através do software R versão 4.3.1, utilizando a função diagCI do pacote bootLR (Marill et al., 2017), com parâmetro R = 10̂4.

Na amostra composta por 104 exames, a CF mostrou uma sensibilidade de 48% (95% IC 29,2‒67), especificidade de 100% (95% IC 95,5‒100), valor preditivo positivo de 100% (95% IC 74,1–100), valor preditivo negativo de 87% (95% IC 78,8–92,5), razão de verossimilhança positiva infinita devido especificidade de 100% (95% IC 12,2‒∞,), e razão de verossimilhança negativa de 52,2% (95% IC 31,8–73). A acurácia diagnóstica calculada foi de 88%.

A Citometria de Fluxo (CF) é uma ferramenta essencial para diagnóstico rápido, classificação e monitoramento terapêutico para a maioria das neoplasias hematológicas. Por outro lado, poucos estudos avaliaram, até o momento, a utilização do método para o screening diagnóstico e subclassificação de tumores sólidos pediátricos. A CF tem várias características que a tornam uma ferramenta útil: rápida execução, possibilidade de avaliação de amostras paucicelulares inviáveis para histologia e imunohistoquímica, análise de expressão antigênica mais objetiva que o olho humano, menor custo de anticorpos monoclonais utilizados na CF. Na amostra do estudo a CF mostrou-se um método pouco sensível, porém altamente específico. A especificidade é “perfeita” determinando uma razão de verossimilhança positiva infinita, sendo necessário uma casuística maior para avaliar este parâmetro com mais detalhe. Os 12 exames falsos negativos foram submetidos a revisão pela citometrista responsável: em 6 amostras havia hemodiluição com pouca quantidade de eventos analisados; em 2 havia infiltração por células de grande tamanho que possivelmente não passaram pelo citômetro. Desta forma, dentre as amostras com resultado falso negativo, 66% apresentaram este resultado devido a questões pré-analíticas, sendo hemodiluição o principal fator.

A imunofenotipagem por citometria de fluxo é um método diagnóstico com potencial aplicação na avaliação de infiltração da medula óssea por tumores sólidos pediátricos. É necessário criar padronização de viabilidade e qualidade da amostra para este fim, com número mínimo de eventos analisados bem estabelecido.