A Doença Falciforme (DF) é um termo que abrange um grupo de anemias hemolíticas hereditárias que se caracterizam pela alteração estrutural na cadeia da beta hemoglobina. É uma enfermidade genética com grande prevalência no Brasil e que gera impacto considerável na morbidade e mortalidade da população afetada. O fenômeno de vaso-oclusão que ocorre principalmente em pequenos vasos, representa a principal causa dos sinais e sintomas dos pacientes com doença falciforme. Uma das consequências desse fenômeno é o priapismo, condição que envolve a ereção prolongada não relacionada ao interesse sexual. Quando se estende além de vinte e quatro horas ou quando ocorre recorrentemente, este evento está associado a necrose tecidual e subsequente fibrose, deixando como sequela graus variados de disfunção erétil. Esta é uma complicação comum na anemia falciforme e que traz prejuízo à atividade sexual, comprometendo a qualidade de vida. Uma importante ferramenta para avaliar esse acometimento consiste no Índice Internacional de Função Erétil (IIEF), o qual analisa aspectos relacionados à ereção, penetração, orgasmo e confiança do paciente relativa à relação sexual.

Avaliar a função sexual masculina dos pacientes com diagnóstico de Doença falciforme.

Trata-se de um estudo observacional e transversal com pacientes do sexo masculino, diagnóstico de Doença Falciforme e em acompanhamento no ambulatório do serviço de hematologia da Escola Pauista de Medicina/UNIFESP. Os participantes foram selecionados aleatoriamente, no período de novembro de 2022 a janeiro de 2023. Foi aplicado o questionário específico e validado para avaliação da função sexual, o IIEF. A partir do IIEF foram abordados 5 domínios da função sexual do homem, a função erétil, a função orgásmica, o desejo sexual, a satisfação individual e a satisfação geral.

Participaram do estudo 10 homens com vida sexual ativa, com mediana de: idade - 25 anos, Hb/Ht – 9 g/dL e 25,6%, HbS – 48,5% DHL - 507,5. Destes, 57% estavam em regime transfusional crônico, 28,5% em uso de Hidroxiureia em monoterapia, e 14,5% em terapia combinada. Ademais, 90% possuíam alguma complicação crônica relacionada a DF, sendo a mais comum Úlcera de membro inferior (50%) seguido de Priapismo (30%). Após aplicação de questionário, 90% não apresentavam disfunção erétil (mediana: 28 pts), com 1 paciente apresentando disfunção erétil moderada (13 pts). Acerca dos demais domínios avaliados, foi encontrado uma mediana de 8 para função orgásmica (0-10), de 7 para desejo sexual (2-10), de 13 para satisfação individual (0-15) e de 8 para satisfação geral (2-10).

No presente estudo verificamos um percentual de disfunção erétil inferior ao das demais evidências (10% vs 30-40%), com possível impacto do tamanho e prevalência de priapismo na casuística avaliada. Entretanto, também identificamos uma manutenção da funcionalidade sexual nos 5 domínios em um percentual significativo de pacientes, a despeito de valores elevados de HbS (maior – 81,9%), presença de complicações ou níveis hematimétricos, o que reforça a possibilidade de promoção de uma vida sexual funcional para esse perfil de pacientes.

Pelo presente estudo pode-se concluir que, a despeito da Doença Falciforme, um percentual importante de pacientes aparenta manter uma vida sexual funcional.