Avaliação dos fatores pré-operatórios e intraoperatórios associados à utilização de concentrado de hemácias para cirurgias cardíacas eletivas realizadas no HCFMB durante períodos antes e durante a pandemia da COVID-19.

Realizou-se a um estudo retrospectivo dos fatores pré-operatórios e intraoperatórios associados à utilização de concentrado de hemácias em cirurgias cardíacas eletivas ocorridas no HCFMB nos períodos de 2018 e 2019 (sem a presença da pandemia de COVID-19) e 2020 e 2021 (com a presença da pandemia de COVID-19). Assim, foram coletados dados em mapas cirúrgicos e prontuários eletrônicos de 741 pacientes que tiveram solicitação de reserva cirúrgica de hemocomponentes. A análise estatística das variáveis foi realizada pelo programa SAS (versão 9.4), sendo p<0,05 de significância.

Dos pacientes analisados, 402 se enquadraram no Período Anterior à Pandemia (PAP) e 339 correspondiam ao Período Durante a Pandemia (PDP). Nos dois períodos PAP e PDP, observou-se a predominância de homens (69,93% e 64,31%) idosos e da cirurgia de revascularização do miocárdio (45,27% e 57,52%) respectivamente. Entretanto, o sexo biológico feminino apresentou menores valores para a não utilização de concentrado de hemácias nos períodos estudados (29,81% e 28,57%, respectivamente). Houve diferenças significativas para a hemoglobina (p=0,0199 e p<0,0001) e hematócrito (p=0,0001 e p=0,0001) em ambos os períodos, cujos percentuais em relação à utilização de concentrado de hemácias se apresentaram elevados (56,41% e 55,56%, respectivamente, para PAP e 59,13% e 59,26%, respectivamente PDP). Também ocorreu o mesmo padrão para a circulação extracorpórea (p<0,0001 para ambos os períodos), tempo de circulação extracoropórea elevado, (>90’, p<0,0427), AINEs ‒ anti-inflamatórios não esteroidais (p=0,0112), AAS ‒ Ácido Acetilsalicílico (p=0,0364) e TTPA ‒ Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (p=0,0330) todos para o PAP.

Embora a literatura apresente maior predominância de homens idosos, quando parea-se com resultados encontrados sobre a maior utilização de bolsas, infere-se o sexo biológico feminino como responsável, possivelmente pelo fato das mulheres apresentarem maior prevalência de anemia, tendo como causa mais frequente a menstruação, gravidez e lactação, corroborando com os achados referentes à hemoglobina e hematócrito. A circulação extracorpórea é caracterizada como uma das principais causas de sangramento em todo o período perioperatório. Tais resultados são potencializados pela presença de uso de AINEs, especificamente o AAS por, pelo menos, 5 dias anteriores à cirurgia, como aponta a literatura, por ser um fator de risco ao sangramento excessivo durante as cirurgias emergentes. Em relação ao TTPA, os dados encontrados podem ser uma consequência da utilização de AINEs. Isso acontece, uma vez que esse marcador sugere deficiência de fatores de coagulação ou a presença de seus inibidores, dificultando a produção de um tampão hemostático e aumentando a ocorrência de hemorragias.

Fatores como o sexo biológico, hemoglobina, hematócrito, TTPA, AINEs, AAS, tipo de cirurgia, circulação extracorpórea demonstraram valores estatisticamente significativos em relação à utilização de concentrado de hemácias em cirurgias cardíacas eletivas.