A transfusão de sangue é uma das terapêuticas mais utilizadas em pacientes hospitalizados. Embora tenha benefícios inegáveis, não é isenta de riscos e efeitos colaterais de gravidades variáveis. Além disso, a busca constante pela segurança transfusional tem custo elevado associado à tecnologia e aos processos envolvidos. Nesse sentido, a PBM (Patient Blood Management) é uma abordagem multidisciplinar e sistematizada de gerenciamento do sangue do paciente, baseada em evidências, que busca minimizar as perdas sanguíneas, otimizar a hematopoese, maximizar a tolerância à anemia e evitar transfusões desnecessárias; visando a melhor evolução do paciente, redução de custos e otimização do estoque de sangue. Abrange todo o período de atendimento, desde antes de o paciente entrar no hospital até após a conclusão do seu tratamento. O objetivo deste estudo foi avaliar e racionalizar a eficácia, seguridade e custo-efetividade de um conjunto de cuidados médicos chamado de Gerenciamento de Sangue do Paciente (Patient Blood Management – PBM) através de uma revisão narrativa da literatura.

Busca não sistemática da literatura, sem restrição de tipo de estudo, data ou idioma, nas bases de dados científicas: MEDLINE, EMBASE, Biblioteca Cochrane, SciELO, Scopus e Web of Science.

Ensaios clínicos randomizados e sub análises de estudos observacionais revelaram que o uso de PBM promoveu redução das transfusões de sangue, do tempo de internação hospitalar, das complicações como insuficiência renal aguda, infecção, eventos tromboembólicos, e da mortalidade. Estudos de análise econômica observaram relevante economia de recursos financeiros nos locais em que o PBM foi implementado.

Diante da redução abrupta e vertiginosa das doações de sangue, diferentes estratégias foram e ainda são adotadas pelos países atingidos. Uma resposta padrão é a suspensão das cirurgias eletivas. No entanto, as cirurgias em caráter de urgência e emergência, as quais podem ser acompanhadas de grandes perdas sanguíneas, não podem ser incluídas nesta estratégia. Uma possível explicação para a associação entre a transfusão de sangue e piores desfechos clínicos presente nos estudos observacionais é a de que os pacientes que apresentam pior prognóstico são justamente os pacientes que recebem maior indicação de transfusão de sangue. De fato, associação não implica em causalidade.

O PBM é eficaz, seguro e efetivo em custo, promovendo redução das transfusões de sangue, melhora nos desfechos clínicos e economia de recursos financeiros, características que o tornam relevante diante de um sistema de saúde sobrecarregado em qualquer urgência e emergência e/ou pandemia.