Correlacionar se existe relação entre a exposição humana à agrotóxicos com o desenvolvimento de neoplasias hematológicas. O presente trabalho justifica-se pelo aumento do uso de pesticidas e demais compostos para a produção em grande e pequena escala em todo o Brasil, bem como pela presença de estudos recentes que demonstram correlação positiva entre os dois eventos.

Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, com abordagem qualitativa, de caráter retrospectivo e analítico. Para a busca de trabalhos foi empregada a estratégia de busca:(Neoplasias hematológicas) and (agrotóxicos). As bases de dados utilizadas foram a Lilacs e Medline e os artigos tabulados no Excel. Os critérios de inclusão foram artigos que abordavam a relação entre qualquer doença hematológica com a exposição a agrotóxicos, de forma gratuita e completa no idioma português (Brasil), publicados nos últimos 10 anos. Os critérios de exclusão são artigos que não abordavam sobre a temática proposta, textos incompletos e artigos duplicados.

Foram encontrados um total de 6 artigos, dos quais 2 eram duplicados, de acordo com análise manual; 1 artigo foi excluído por não abordar a temática proposta no estudo. Desse modo, foi selecionado um total de 3 artigos.

Entre 2010 e 2020, a quantidade de agrotóxicos comercializados no Brasil aumentou 78,3%, quase o triplo do que cresceu a área cultivada no país (27,6%). Por outro lado, no período de 01 de janeiro de 2019 a 30 de junho de 2022, do total de produtos químicos registrados, 50,8% continham pelo menos um ingrediente ativo banido ou sem registro na União Europeia (Hess et al., 2022). Desse modo, associado com o aumento do contato com essas substâncias advém também o interesse sobre os impactos sobre a saúde humana. Um estudo desenvolvido em um pólo fruticultor que englobava 53 municípios analisou os fatores ocupacionais associados a neoplasias hematológicas e trouxe resultados positivos em tal premissa. O trabalho apontou que trabalhadores rurais têm mais chances de desenvolver neoplasias hematológicas, principalmente os expostos a agrotóxicos, por mais de 7 horas/dia e por um tempo superior a 10 anos, quando comparados aos não expostos (Moura et al, 2018). Há evidências também que muitos agrotóxicos, com destaque aos organoclorados, possuem capacidades de promover alterações epigenéticas, com mudanças no perfil de expressão dos microRNAs e modulações oncogênicas. Um estudo evidenciou incremento de danos e hipermetilação do DNA em trabalhadores da cultura da soja expostos à mistura de herbicidas, fungicidas e inseticidas (Benedette et al, 2018).

Os resultados e as evidências dos artigos reforçam a hipótese de que a exposição ocupacional a agrotóxicos pode ter um papel importante no processo de carcinogênese das neoplasias hematológicas.