As leucemias representam um grupo heterogêneo de neoplasias que se caracterizam pela proliferação de células hematopoiéticas malignas. A quimioterapia é o tratamento de escolha, porém os efeitos adversos podem impactar diretamente o estado global de saúde e reduzir a qualidade de vida dos pacientes. Criar estratégias que possam minimizar os efeitos são essenciais para garantir melhores desfechos clínicos. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da ingestão de um sorvete com alto teor de proteínas e baixo teor de gorduras sobre a qualidade de vida de indivíduos com leucemia aguda durante a quimioterapia.

Ensaio clínico randomizado pragmático (RBR-5dvnbqx), de grupos paralelos, controlado, uni-cego, realizado com indivíduos adultos, com diagnóstico recente de leucemia aguda e aptos a iniciar o primeiro ciclo de quimioterapia. A amostra foi constituída de indivíduos com média de idade de 42,9 anos, sendo 40% do sexo feminino e 70% diagnosticados com Leucemia Mieloide Aguda. A amostra foi randomizada em grupo controle (n = 4), que recebia a dieta do hospital e grupo intervenção (n = 6), que recebia mais 120 g do sorvete, diariamente por 21 dias. A qualidade de vida foi avaliada através do questionário validado para pacientes brasileiros com câncer, o European Organisation for Research and Treatment of Cancer Quality of Life Questionnaire Core 30, aplicado nos dias 1 e 21 após o início concomitante da quimioterapia. O score do estado de saúde global varia de 0 a 100 sendo que uma maior pontuação indica melhor qualidade de vida. Na escala de sintomas os scores variam de 0 a 100 com menor pontuação indicando melhores desfechos. Os resultados foram expressos como diferenças de médias: diferença entre o score do dia 21 e o do dia 1.

Os resultados preliminares deste estudo, ainda em andamento, demonstram que o grupo intervenção apresentou aumento médio do score referente ao estado de saúde global de 20,83 pontos, enquanto que o grupo controle reduziu seu estado global de saúde em -2,08 pontos, indicando piora da qualidade de vida. Quando avaliada a escala de sintomas, o grupo intervenção comparado ao grupo controle apresentou melhores desfechos em relação a náusea e vômito (-2,78 vs 8,33), constipação (-22,22 vs -16,66), diarréia (22,22 vs 25) e dificuldades financeiras (5,56 vs 16,67). Nos outros sintomas que compõem a escala, o grupo intervenção apresentou resultados inferiores em fadiga (-14,81 vs -25), dor (-19,44 vs 41,67), insônia (-33,33 vs -16,67), perda de apetite (11,11 vs 8,33) e resultados similares para dispneia (-33,33 vs -33,33).

O efeito positivo de intervenções nutricionais orais sobre a qualidade de vida em pacientes com câncer em geral já tem sido observado, no entanto, poucos estudos envolvendo pacientes com câncer hematológico, principalmente nas fases iniciais da doença e tratamento, foram encontrados.

O uso da intervenção nutricional de forma precoce parece melhorar o estado global de saúde e alguns parâmetros de sintomas, impactando na qualidade de vida. A continuidade deste estudo, alcançando um tamanho amostral mais representativo e associando com outros desfechos clínicos, pode trazer contribuições científicas relevantes.