A eficácia da farmacoterapia está intrinsecamente ligada ao entendimento do indivíduo acerca da terapêutica aplicada à sua patologia, tal conhecimento culmina na adesão ao tratamento e na minimização de eventos adversos, fatores esses que compõem os objetivos previstos na Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Outrossim, a realização de consultas farmacêuticas periódicas, principalmente em condições crônicas, detém uma significativa contribuição no monitoramento do perfil de adesão medicamentosa, desde os primeiros meses de vida, tal como ocorre nos casos de hemoglobinopatia do tipo S identificados na triagem neonatal, popularmente conhecido como “teste do pezinho”. Dito isso, o trabalho em questão visa mensurar o impacto do serviço de assistência farmacêutica na farmacoterapia de pacientes em tratamento de hemoglobinopatias, coagulopatias e outras morbidades que interferem na hematopoiese e hemostasia.

Trata-se de um relato de experiência da rotina do serviço em um consultório farmacêutico no ambulatório de hematologia do centro de hemoterapia e hematologia do estado do Pará no período de janeiro a junho de 2023, embasado na literatura atual e vivência em residência multiprofissional.

No total foram atendidos 400 pacientes, sendo destes 56% (224) do sexo feminino e 44% (176) do masculino, em uma faixa etária entre 0 a 86 anos, sendo alguns pacientes de repetição em consultas farmacêutica. Além disso, do número total 35,75% realizam terapia para coagulopatias, 46,25% para hemoglobinopatias e 18% para outros distúrbios hematopoiéticos ou condições autoimunes, sendo 172 pacientes advindos da região metropolitana de Belém e 228 do interior do estado. Pode-se perceber com o decorrer dos atendimentos que diversos pacientes mesmo aqueles com diagnóstico há muitos anos não possuem total conhecimento acerca do processo de cuidados que envolvem sua patologia e ao final dos atendimentos terminavam não só por estabelecer um vínculo de confiança com o farmacêutico como também se apropriaram do conhecimento necessário para se tornarem agentes do seu próprio cuidado, partindo com a capacidade de realizarem questionamentos a equipe multiprofissional de forma mais concisa e confiante. Tendo como exemplo os pacientes coagulopatas, que realizam infusão de pró-coagulantes periodicamente para evitar sangramentos espontâneos, os quais após os atendimentos terminaram fomentando o compromisso com sua terapêutica e melhorando a adesão ao tratamento. Dessa forma, se pode perceber que avaliação do paciente por um farmacêutico clínico auxilia não somente na conduta dos prescritores, propiciando uma maior segurança, como também serve como barreira para circunstâncias geradoras de problemas relacionados a medicamentos, possibilitando atuação preventiva à ocorrência de resultados desfavoráveis da terapia medicamentosa, e contribuindo para a segurança do paciente e a racionalidade da farmacoterapia.

Assim, a incorporação de consultas farmacêuticas servem como estratégias de grande valia não somente para pacientes em condições crônicas, que necessitam desse atendimento mais próximo, mas também para dar mais confiabilidade do desenvolvimento assistencial para toda equipe multidisciplinar visando proporcionar o melhor atendimento, a promoção a saúde e a qualidade de vida desses usuários.