Relatar a experiência das ações realizadas por uma dentista residente, na Clínica de Transição (CT) na doença falciforme (DF) no Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio), Rio de Janeiro.

Estudo descritivo observacional, tipo relato de experiência com análise de abril de 2022 a abril de 2023.

A CT do Hemorio surgiu no intuito de ofertar atendimento através de uma Equipe Multiprofissional (EM) a pessoas com DF dos 18 aos 23 anos. No Hemorio, a transição (pediatra – hematologista) ocorre aos 18 anos e a multiprofissionalidade da equipe ficou a cargo das seguintes categorias profissionais: Enfermagem, Serviço Social, Fonoaudiologia, Psicologia, Medicina e Odontologia. O cirurgião dentista (CD) inserido na EM deve realizar promoção, proteção e recuperação da saúde oral de forma integral e interdisciplinar entendendo as peculiaridades e particularidades desta fase. O percurso metodológico no atendimento foi: 1) seleção dos pacientes; 2) agendamento na Odontologia. 3) consulta inicial na Odontologia com a CD participante da CT (ações a serem exploradas nos resultados); 4) consultas de tratamento/controle.

Foram encaminhados 120 pacientes, com adesão de 45% (54), sendo 61,1% (32) do sexo feminino, com média de idade de 19,86. Ações: instrução de higiene oral com demonstração em macromodelos e atuação do indivíduo, orientação sobre o fio dental, escova, creme dental, flúor, alimentação, redução de danos, hidratação labial, consumo de água, doença falciforme e implicações orais, cárie, doença periodontal, além de temas peculiares a faixa etária, como uso de piercings orais, bebida alcoólica, cigarro e infecções sexualmente transmissíveis. As ações tiveram como finalidade proporcionar uma prática baseada no diálogo, de forma horizontal e com vistas à autonomia do sujeito e ao empoderamento, fugindo da lógica e modelo biomédico centrado na doença com práticas apenas curativas. As consultas ocorriam de forma individual em forma de diálogo e bate papo, com dúvidas, questões inúmeras vezes trazidas pelo público diante do novo. Apesar da individualidade, alguns jovens solicitaram, na primeira consulta a presença dos responsáveis. Neste sentido, essa consulta foi importante para estabelecer vínculo entre o familiar-paciente-profissional, de forma a oportunizar aos mesmos, a segurança necessária a fim de atingir a entrada individualizada.

A DF é uma doença crônica o que também leva a necessidade do cuidado direcionado da transição da infância/adolescência para a vida adulta. Entende-se que este processo precisa ser gradual e contínuo com ações que promovam a autonomia do sujeito. Neste sentido, o atendimento, abordagens e interações realizadas devem potencializar e fortalecer a independência e autonomia do cuidado através das ações preventivas educativas. Entender o contexto que o indivíduo está inserido e as interações permitem possibilitar um atendimento individualizado, centrado no sujeito.

As atividades realizadas na odontologia dentro da CT vislumbram as ações de promoção de saúde, com vistas ao empoderamento, conhecimento e autonomia do sujeito. Ademais, apesar de citada às ações de apenas uma categoria profissional, reitera-se que o atendimento é feito de forma multiprofissional, compreendendo a integralidade do sujeito.