A triagem clínica consiste na avaliação da história clínica e epidemiológica, do estado atual de saúde, dos hábitos e comportamentos do candidato à doação para determinar se ele está em condições de doar sangue sem que haja prejuízo à sua saúde e a do receptor. O candidato que não preencher os requisitos pré-estabelecidos para a doação de sangue ou que seja portador de alguma condição que impossibilite a doação pode ser considerado com inaptidão definitiva ou temporária.

Levantar características dos candidatos à doação de sangue que compareceram à Fundação Hemocentro de Brasília nos anos de 2018 a 2022.

Trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa. Os dados foram extraídos do sistema SistHemo. As variáveis analisadas foram aptidão para doação, gênero, frequência de doação, tipo de doador, faixa etária dos doadores e motivos de inaptidão para doação. A consulta ao sistema foi realizada em 26 de maio de 2023. A tabulação das informações foi feita utilizando-se os softwares Microsoft Excel e R Core Team (2023).

No ano de 2018, 71.697 pessoas compareceram na FHB para doar sangue. Em 2019, essa quantidade chegou a 80.527 e, em 2020, reduziu para 71.060. O número de candidatos à doação continuou diminuindo, atingindo 66.827 em 2021 e 66.108 em 2022. O percentual de inaptidão por ano variou entre 20% e 30%, sendo 23,30% em 2018; 29,45% em 2019; 25,28% em 2020; 20,22% em 2021; e 20,11% em 2022.

Analisando-se os candidatos por gênero, observa-se que a maioria é do sexo masculino, variando em torno de 54% ao longo do período. Considerando a aptidão para doação em relação ao total por gênero, tem-se que o percentual de mulheres aptas (aproximadamente 74%) é ligeiramente inferior ao percentual de homens aptos aproximadamente 78%). Em relação à frequência de doação, em 2018, 40,13% dos candidatos eram de repetição/frequente; 26,45%, esporádicos; e para 33,43% dos candidatos triados era a 1ªvez doando. A classe de frequência de doação que apresentou o maior percentual de inaptidão foi a dos doadores de 1ªvez, aproximadamente 31% no período. Os doadores esporádicos tiveram por volta de 19% de inaptidão e os de repetição/frequente variaram entre 32,25% e 13,07% no período, apresentando tendência de queda de 2019 a 2022. O tipo de doador que aparece com maior frequência é o espontâneo, seguido dos doadores de campanha. Considerando a faixa etária, os doadores de 30 até 39 anos apresentaram as menores taxas de inaptidão. Dentre as categorias consideradas, o motivo comportamento de risco foi o que mais causou inaptidão para a doação, tanto para homens quanto para mulheres. Na categoria doenças sexualmente transmissíveis não houve variação significativa de ambos os gêneros, porém observou-se um impacto considerável ao comparar os números apresentados com a categoria comportamento de risco. Na categoria motivo hematócrito/hemoglobina concentrado demonstra que as taxas de hemoglobina concentrada foram maiores no gênero masculino apresentando um alto nível de concentração de ferro merecendo destaque. Observou-se, também, que os casos de lipemia ocorreram todos em homens. Entre 2018 e 2019, o total de triagem clínica do doador quanto à inaptidão é inferior ao número total de candidatos considerados inaptos.

O estudo evidenciou que os principais motivos de exclusão para doação entre os gêneros como comportamento de risco, que se manteve constante ao longo dos anos. Houve uma crescente queda no ano de 2020 conforme os dados apresentados quanto aos candidatos com alguma inaptidão temporária, pois esse público tende a não voltar para o Hemocentro após o período de inaptidão, o que impacta diretamente nos níveis dos estoques dos bancos de sangue.