A Doença Falciforme (DF) é uma anemia hemolítica hereditária que pode causar complicações, como infecções, eventos tromboembólicos e hemorrágicos. A gravidez, nas pacientes com DF, é considerada de alto risco, pois pode aumentar a mortalidade materna e fetal.

O objetivo deste trabalho foi avaliar as complicações relacionadas à gravidez em pacientes com DF.

Para tanto, foi conduzido um estudo retrospectivo, descritivo e quantitativo, através dos prontuários das pacientes com DF e com histórico de gravidez, acompanhadas em um centro de referência em DF no Ceará, no período de 2014 a 2023.

Foram analisadas 25 pacientes, destas, observamos 45 gestações, das quais 35 evoluíram para o parto, com 33 nascidos vivos e 2 natimortos, e 10 foram abortos. Os abortos e natimortos ocorreram em gestações de 6 diferentes pacientes, e as principais causas foram insuficiência placentária, prematuridade e óbito materno. Todas as pacientes tiveram, pelo menos, um tipo de complicação durante as gestações. Quando observamos a última gestação de cada paciente, em 48% ocorreu prematuridade. Nesta mesma avaliação, foi visto que 96% das pacientes realizaram pré-natal de alto risco. Todas elas foram acompanhadas pelo ambulatório de hemoglobinopatia, 60% delas sem faltas nas consultas. Das gestantes avaliadas, 80% delas necessitaram de transfusão sanguínea na gestação ou no periparto, sendo 28% delas incluídas nos protocolos de transfusão de troca programada para gestação. Não houve relato de reação transfusional. Em relação a complicações da DF, foi observado que elas ocorreram em 60% das mulheres, e as complicações relacionadas à gravidez ocorreram em 52%. Das complicações associadas à DF, as mais frequentes foram a síndrome vaso-oclusiva (32%) e a síndrome torácica aguda (20%). Três pacientes (12%) tiveram trombose venosa profunda. As demais complicações da DF observadas foram: pneumonia, síndrome anêmica, convulsão tônico-clônica generalizada e AVC hemorrágico. Foi observado um óbito materno, em decorrência de AVC hemorrágico, e um óbito após o período gestacional.

Mesmo em acompanhamento pré-natal especializado, a taxa de óbito materno foi de 4%, taxa alta quando comparada à população em geral. A sepse e a síndrome torácica aguda são as principais causas de óbitos de gestantes com DF. No nosso trabalho, a causa do único óbito materno foi decorrente de AVC. Além disso, este estudo apontou uma alta frequência de abortos, prematuridade e natimortos. Devido à sua pequena amostra, nosso trabalho não pode fazer generalizações para todas as gestações de mulheres com DF, mas aponta que mais estudos devem ser realizados para melhor acompanhamento das gestantes com essa doença.

Portanto, nosso trabalho aponta para um possível elevado risco das gestações em pacientes com DF, em decorrência do alto número de complicações que esta patologia pode causar na saúde da gestante e do feto.