Compreendendo o trabalho como um processo sóciohistórico, em que sua dinâmica e efeitos impactam nos resultados tanto do trabalho como do indivíduo, a Organização Internacional do Trabalho refere-se, aos riscos psicossociais do trabalho como uma dimensão de risco ocupacional a ser estudada e prevenida junto às diversas ações da Segurança do Trabalho. O Conselho Federal de Psicologia, na Resolução Nº14 de 28/06/2023 regulamenta o exercício profissional do psicólogo na realização de avaliação de riscos psicossociais relacionados ao trabalho, reforçando a promoção da segurança e da saúde mental como campo de atuação do psicólogo no âmbito organizacional. Estudos do Ministério da Previdência Social identificaram que os profissionais de saúde, apresentam estatisticamente um aumento nos afastamentos por razão de adoecimento relacionado ao trabalho, no contexto do Hemocentro do RN, o Núcleo de Atenção à Segurança e Saúde do Trabalhador-NASST, identificou o quadro de adoecimentos e provocou a realização das Oficinas de Riscos Psicossociais, buscando a interlocução entre os servidores e gestores, a fim de contribuir para estruturação de novas práticas de gestão. O NASST realizou 6 oficinas com o “jogo da percepção dos riscos psicossociais no trabalho”, o jogo consta de um tabuleiro com 80 cartas temáticas, contendo informações que provocam reflexões nos jogadores tanto para percepção dos riscos quanto para prevenção. A ferramenta foi criada pelo projeto de extensão “apoio psicossocial no trabalho”da UFRN, fundamentado na teoria geral do estresse no trabalho, no qual 20 dimensões do estresse laboral serviram de base para a construção das cartas. Nesta abordagem há um instrumento, o questionário psicossocial de Copenhague (CoPsoQ-istas21) utilizado mundialmente para avaliação e prevenção dos riscos psicossociais em empresas. Dessa forma, as informações contidas nas cartas trazem uma orientação, com temáticas acerca dos riscos psicossociais que ajudem na informação sobre os mesmos; promovam uma reflexão a respeito da natureza e suas causas, além de evocar medidas de prevenção. As oficinas foram agendadas com as equipes, e ocorreram na instituição, com a presença de um psicólogo facilitador e de auxiliares para registro e sistematização da produção grupal. A análise de conteúdo realizada nos registros das falas dos participantes, possibilitou identificar seis categorias predominantes nos discursos, denominadas: Sentimento de suporte grupal; Identificação e alinhamento com a cultura da organização; Infraestrutura, equipamentos e insumos inadequados/insuficientes; sobrecarga de trabalho; dificuldades na comunicação e falta de reconhecimento. Os riscos psicossociais vem se configurando como uma categoria emergente de riscos em saúde ocupacional em detrimento, de grandes exigências no trabalho, combinadas com recursos insuficientes para o enfrentamento das mesmas; ocasionando sofrimento ao trabalhador e consequente adoecimento, caso a exposição a essa situação seja prolongada, se os recursos permaneçam limitados, e se as estratégias de coping/suporte social, familiar e de grupo sejam ineficientes o adoecimento será o resultado. Desta forma, identificamos o suporte social como um diferencial e pilar para a redução dos riscos psicossociais junto aos trabalhadores do Hemocentro, contudo, os componentes estressores relacionados às condições de trabalho(sobrecarga e infraestrutura) apresentam-se como prioridade para prevenção da saúde mental dos trabalhadores.