A doença falciforme, é doença genética hereditária de maior prevalência no mundo, pode ser controlada se houver diagnóstico precoce, tratamento adequado e acompanhamento médico profissional especializado contínuo. O pulmão é um dos órgãos mais acometidos e as complicações resultam em significativa morbimortalidade na faixa etária pediátrica, etiologia multifatorial, sendo implicadas causas infecciosas e não infecciosas.

Relatar o caso clínico de um paciente portador de anemia falciforme internado diagnosticado Síndrome Torácica Aguda (STA) e sua complicação pulmonar associado a infecção por aspergillus spp.

Estudo clínico descritivo, retrospectivo do tipo relato de caso, com as informações coletadas a partir da revisão de prontuário eletrônico de um paciente de um hospital da zona leste da cidade de São Paulo.

Paciente sexo feminino, 9 anos de idade, portadora de anemia falciforme, iniciou quadro de dor torácica há direita associada à desconforto respiratório, tosse seca, coriza, congestão nasal e 2 episódios de vômitos, sendo admitida no pronto- atendimento, mesmo com suporte clínico inicial evolui com piora da dor torácica, dessaturação e febre com diagnóstico STA grave iniciado antibiótico ceftriaxona e claritromicina, analgesia, oxigenoterapia e concentrado de hemácias. Realizada radiografia de tórax com imagem de opacidade extensa à direita e cavitação em ápice à direita. Necessitou de ventilação mecânica devido piora de quadro de desconforto respiratório agudo, droga vasoativa por instabilidade hemodinâmica e escalonado antibiótico para meropenem e vancomicina sendo encaminhada para à unidade de terapia intensiva. Realizada tomografia computadorizada de tórax com área de cavitação pulmonar de paredes espessadas com focos vegetantes em seu interior no lobo superior direito, opacidades atelectásticas em campo médio e bases bilaterais, reação pleural. Exames laboratoriais: galactomanana sérica negativa e galactomanana lavado brônquico antígeno reagente – Aspergillus sp. Baseado nos achados clínicos, radiológicos e laboratorias, foi feito o diagnóstico de aspergilose pulmonar cavitária crônica. Iniciado o tratamento com anfotericina B e substituído por voriconazol com melhor resposta terapêutica.

A doença falciforme é uma afecção sistêmica que potencialmente pode afetar vários órgãos e sistema. O pulmão é um dos órgãos mais acometidos e as complicações na doença resultam em significativa morbimortalidade na faixa pediátrica. A complicação pulmonar com quadro mais exuberante, sendo diagnosticada no caso abordado, devido redução da hemoglobina, achado radiográfico, dor torácica de caráter agudo e desconforto respiratório sendo necessário suporte ventilatório invasivo. A causa de STA, nesse paciente foi compatível com quadro infeccioso pois apresentava na história clínica inicial síndrome gripal, no decorrer da internação foi investigado e diagnosticado uma particularidade associada, à presença de infecção fúngica, no caso Aspergillus ssp comprovado no lavado broncoalveolar na pesquisa de antígeno galactomanana, fechando a hipótese diagnóstica de apergilose pulmonar cavitária crônica pois na tomografia computadorizada de tórax, há presença de área de cavitação pulmonar de paredes espessadas com focos vegetantes no lobo superior direito, fortalecendo o diagnóstico etiológico. Iniciado tratamento com voriconazol terapêutica indicada.

Mesmo com diversas complicações, o paciente apresentou um desfecho favorável e alta após 52 dias. Recebeu analgesia com prescrição de itraconazol 200 mg/dia, por um período de 6 meses. A boa evolução foi reflexo do diagnóstico e tratamento adequados.