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Vol. 45. Issue S4.
HEMO 2023
Pages S916-S917 (October 2023)
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Pages S916-S917 (October 2023)
PSICOLOGIA
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AS DOENÇAS CRÔNICAS E O DESEJO DE MORTE
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RS Mendes
Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia de Minas Gerais (Hemominas), Belo Horizonte, MG, Brasil
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Vol. 45. Issue S4

HEMO 2023

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A OMS define como doenças crônicas as patologias crônicas de lento desenvolvimento e uma longa duração, podendo acompanhar a pessoa durante toda a vida, requerendo tratamentos duradouros e complexos. Dentre as doenças crônicas temos as doenças falciformes, que são alterações genéticas caracterizadas pela predominância da hemoglobina S (HbS) nas hemácias. Sua sintomatologia é variada e complexa requerendo do paciente constante e periódica ida a médicos, clínicas e inúmeros exames. A escuta terapêutica objetiva propiciar um espaço onde estas pessoas, que sofrem com dores constantes, possam verbalizar seus sentimentos e decepções de um tratamento que nunca cura, mesmo naquelas pessoas obedientes ao tratamento. “Faço tudo que me orientam e não melhoro”. Diante deste impasse dores X tratamento muitas vezes o paciente verbaliza, nos atendimentos psicológicos, o desejo de parar de viver “Não aguento mais, só fico pensando em besteira”. Dentre os fatores de risco para o suicídio temos as doenças incapacitantes e dolorosas que pode ser traduzido pelas crises da doença falciforme. Aponta-se que o paciente não deseja morrer, seu desejo é parar de sofrer. A dor paralisa o pensamento, as opções parecem escassas ou inexistentes e a falta de esperança permeia todo o pensamento. Estamos falando do doente desde sempre e para sempre. E aparecem os sinais de tristeza, perda de interesse por atividades que anteriormente gostava, ausência de projetos para o futuro. Tais características nos remetem ao mito de Sísifo. Sísifo tentou aprisionar o Deus da morte e foi condenado, por toda eternidade. Há um elo associativo entre a história do doente crônico – enquanto existência humana – e o mito de Sísifo. Sísifo é condenado pelos Deuses a empurrar sem descanso um rochedo até o cume da montanha, de onde a pedra cairá e novamente, num trabalho sem fim, será levada até o alto do monte. O castigo é intercalado entre a subida, feita com grande esforço (as crises do doente crônico), e a descida (períodos sem dores, sem procedimentos invasores), quando ele pensa. “Vejo esse homem descer outra vez, com um andar pesado mais igual, para o tormento cujo fim nunca conhecerá. Essa hora que é como uma respiração e que regressa com tanta certeza como a sua desgraça (a doença), essa hora é a da consciência”. O mito é trágico, porque o seu herói é consciente e impotente, conhece toda a extensão de sua miserável condição. Há aí um tormento em que o absurdo, a esperança e a morte travam o seu diálogo. Observam-se com frequência, nestes pacientes crônicos, picos de intensa ansiedade realística, inibição das funções do eu (sexo, nutrição, locomoção, trabalho), profunda tristeza, conflito entre desejo de viver versus desejo de morrer. Isto aponta, então, para o fato de que a urgência da doença domina inteiramente o sujeito, estudos, trabalhos, atividades ficam relegados, de um modo geral, a inoperância e, com isso, a doença impera e governa. Aponta-se uma ambivalência, quando o desejo de viver e de morrer se misturam. Cabe ao psicólogo acolher este momento de ambivalência, incentivando o estar vivo e potencializando a vida, ou seja, ampliar situações nas quais o paciente possa se sentir vivo. Há que se afirmar que não é possível prevenir o suicídio sozinho, o trabalho deve ser realizado com os familiares e demais profissionais de saúde.

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Hematology, Transfusion and Cell Therapy
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