A anemia falciforme é uma doença hereditária monogênica que se caracteriza pela falcização dos eritrócitos, causando adesão às paredes vasculares e resultando em crises vaso-oclusivas com episódios de dor e lesão de órgãos. Além disso, mais de um terço dos adultos com essa doença apresentam quadros de dor crônica persistente. Neste contexto clínico, os analgésicos opioides são um dos pilares do tratamento da dor aguda e crônica, sendo frequentemente prescritos a pacientes com anemia falciforme, nas quais o tipo e a posologia destes medicamentos variam de acordo com a severidade da dor. No entanto, é importante destacar o risco estabelecido de induzir dependência física e/ou psicológica que essa classe de medicamentos apresenta, o que pode resultar em transtornos relacionados ao seu uso, principalmente em pacientes que fazem o seu uso recorrente. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é a realização da síntese de evidências sobre o transtorno relacionado ao uso de opioides em pacientes com anemia falciforme.

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada nas bases de dados da Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE) e da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), a partir de artigos científicos publicados no período entre 2013 a 2023, no idioma inglês, completos e em open access, utilizando os descritores: opioid-related disorder, sickle cell disease, opioid e pain management.

Foram encontrados 192 artigos científicos, dos quais 184 foram excluídos após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, totalizando oito artigos para serem lidos e analisados na íntegra. Os estudos indicam que tanto os pacientes quanto os profissionais de saúde têm preocupações acerca do uso crônico de opioides, devido às características farmacocinéticas e farmacodinâmicas da classe, que podem resultar em dependência quando utilizados de forma inadequada ou por longos períodos. Entretanto, a estigmatização dos pacientes em relação à dependência resulta em um manejo inadequado da dor, como a prescrição de subdoses e o aumento das dificuldades de acesso aos medicamentos. Além disso, uma das questões abordadas foi o desconhecimento dos profissionais de saúde em relação ao diagnóstico do transtorno relacionado ao uso de opioides, o que abre espaço para julgamentos subjetivos e/ou influenciados por estigmas sociais. Ademais, os estudos destacam a carência de protocolos estabelecidos para o manejo da dor em pacientes falciformes e dependência a opioides,se fazendo necessário aplicação de abordagens específicas, incluindo o rastreamento e monitoramento do tratamento, o gerenciamento da dor com foco na otimização da analgesia em doses adequadas, e o envolvimento ativo do paciente na definição de metas para o controle da dor e no estabelecimento de um tratamento multimodal e personalizado.

Dessa forma, enfatiza-se a importância de abordagens específicas para o manejo da dor, com o objetivo de minimizar os riscos associados ao uso de opioides. Além da estigmatização relacionada a esses medicamentos, o que destaca a necessidade de uma abordagem mais informada. Por fim, destaca-se que a literatura abordando esse tema de forma específica é escassa, principalmente de estudos que considerem o cenário nacional.