A sintomatologia da anemia é bastante inespecífica, marcada, principalmente, pela palidez, mais bem avaliada em mucosas, em especial a conjuntiva palpebral. Entretanto, esse achado semiológico pode ter muitos significados e geralmente traz baixa concordância entre avaliadores, sem consenso na literatura para melhora da acurácia em profissionais mais experientes.

O trabalho tem por objetivo central avaliar a acurácia da ectoscopia do descoramento em conjuntivas para o diagnóstico de anemia e sua variação com a experiência clínica do examinador.

Estudo observacional, transversal, individuado e analítico. Um total de 54 pacientes, teve sua conjuntiva palpebral avaliada por um grupo de internos, residentes e/ou especialistas, além do registro de admissão médica. Como também foi observada a hemoglobina, utilizada como padrão-ouro para diagnóstico de anemia. Para cada grupo de examinadores foi calculada a acurácia, sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e negativo, razão de verossimilhança positiva e negativa do exame de mucosas. Também foi avaliada concordância entre grupos pelo coeficiente Kappa ponderado linearmente. Além disso, analisando a associação da graduação em cruzes com o nível de hemoglobina, foi aplicado o teste de Kruskal-Wallis para cada grupo. A significância para todos os testes foi estabelecida em 5%, sendo p valor < 0,05 estatisticamente significativo. As análises foram feitas no software estatístico Jamovi 2.2.5.

A acurácia no diagnóstico de anemia para os grupos de internos, residentes, especialistas e registro admissional foi respectivamente 67,4% (IC 95% 52,5-80,1%); 66,7% (IC 95% 49-81,4%); 61,1% (IC 95% 43,5-76,9%); 60,5% (IC 95% 43,4-76%). A concordância entre os grupos foi baixa para a maioria das comparações, sendo aceitável entre residentes e registro admissional, mas inexistente entre residentes e especialistas. Houve associação estatisticamente significativa entre a graduação da palidez e a hemoglobina apenas no grupo de internos.

Não houve diferença estatisticamente significativa entre a acurácia, e outros testes diagnósticos, mostrando, dentro das limitações do estudo, que a experiência clínica não exerce influência sobre a avaliação da conjuntiva palpebral em nosso meio.