HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA trombocitemia essencial (TE) é uma neoplasia mieloproliferativa BCR::ABL1 negativa rara (0,6-2,5/100.000 indivíduos), caracterizada por uma trombocitose persistente, resultado de uma produção exacerbada de megacariócitos na medula óssea. O diagnóstico ocorre entre a quinta e a sétima década de vida, é caracterizado pela identificação de variantes drivers nos genes JAK2, MPL e CALR, que influenciam em complicações hemorrágicas e trombóticas. Casos juvenis com eventos trombóticos são incomuns e estão em processo de elucidação clínica e etiopatogênica.
ObjetivosIdentificar casos de trombose multifocal em pacientes jovens com trombocitemia essencial em uma coorte da Amazônia Brasileira.
Material e métodosAnálise dos prontuários médicos dos pacientes que foram diagnosticas antes da terceira década de vida, e concordaram em participar do estudo. Foram avaliados dados clínicos e laboratoriais, eventos hemorrágicos e trombóticos, além de dados genéticos.
Resultadosdos 60 pacientes com diagnóstico para TE, apenas 15% apresentaram diagnóstico antes dos 30 anos de idade. Desses indivíduos, apenas um (1,6%) apresentou múltiplos eventos hemorrágicos desde o diagnóstico. Trata-se de um paciente do gênero feminino, 33 anos, com diagnóstico clínico de trombocitemia essencial aos 25 anos (2017). Seu histórico clínico evidenciou relatos de trombose venosa profunda (2017), trombose mesentérica (2019) e dois episódios de hemorragia digestiva alta (2017). A triagem molecular de JAK2 confirmou a presença de da variante driver JAK2V617F (rs77375493: G/T; Frequência alélica variante - VAF: 50%), do haplótipo de linha germinativa 46/1 (rs10974944: G/G) e variantes da região promotora (rs6476933: C/T; rs73389454: A/C; rs1887428: G/C). Análise do éxon 9 de CALR demonstrou a presença da variante benigna rs1049481 (G/T). Valores do hemograma realizado concomitante a análise molecular encontravam-se dentro do valor de referência, exceto pela trombocitose evidente. Seu histórico de tratamento caracteriza-se pelo uso de hidroxiureia em baixa dose (1 comprimido por dia), com resposta subótima.
Discussão e conclusãoCasos de trombose multifocal em pacientes jovens com TE são raros e correlacionam-se com a gravidade da doença e o envolvimento de fatores genéticos. O perfil genético da paciente sugere a existência de um desequilíbrio de ligação causado pela variante de 46/1, corroborado pela hipótese do solo fértil, em que o haplótipo favorece a aquisição de JAK2V617. A ativação exacerbada de JAK-STAT confere às células JAK2V617F+ uma vantagem seletiva em termos de sobrevivência e proliferação dentro do microambiente medular. Essa ativação explica a megacariopoiese acentuada e a trombocitose associada ao perfil de alto risco trombótico observado na paciente. Além disso, estudos apontam que a presença de JAK2V617F em VAF elevada e de rs10974944 correlacionam-se a maior frequência de eventos trombóticos e hemorrágocs. A ocorrência desses eventos pode ser interpretada como um desequilíbrio hemostático característico da doença, onde a hiperreatividade dos trombócitos coexiste com a sua disfunção. o caso evidencia que a interação entre variantes genéticas em JAK2 podem contribuir para a manifestação precoce, eventos trombóticos e hemorrágicos graves em pacientes com trombocitemia essencial JAK2V617F+. Isso reforça a importância de uma vigilância clínica e manejo multidisciplinar de pacientes com esse perfil genético.




