Segundo a Sociedade Internacional de Transfusão Sanguínea (ISBT), um tipo sanguíneo é considerado raro quando a frequência de certo fenótipo na população é inferior a 1:1000 indivíduos. Por terem base genética, as frequências dos antígenos podem variar entre populações. O antígeno Lan (ISBT 001033), do sistema de grupo sanguíneo LAN (ISBT 033), é considerado de alta frequência na população mundial e sua ausência é considerada rara no Brasil. Entretanto, não há estudos na literatura apresentando o cenário nacional em relação ao antígeno. Devido ao risco de reações hemolíticas graves, doença hemolítica perinatal, à ausência de triagem sorológica e molecular e doadores identificados no país, somado à alta frequência do antígeno Lan e à falta de dados sobre sua prevalência na população catarinense e brasileira, o estudo é essencial para subsidiar o Cadastro Nacional de Sangue Raro (CNSR) e viabilizar transfusões mais seguras a receptores aloimunizados.

O presente estudo teve como objetivo identificar os doadores de sangue com fenótipo Lan- (LAN:-1) ou fracamente positivo (+wk) do Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina (HEMOSC).

Estudo experimental e transversal, aprovado em Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CAAE: 79024724.7.0000.0121), empregando um método de baixo custo para realização de triagem de doadores de sangue da hemorrede do HEMOSC, por meio da fenotipagem eritrocitária com soro monoclonal de especificidade anti-Lan (OSK43; IgG1κ) com título 512 e escore 89, utilizando a técnica de antiglobulina indireta em gel teste (LISS/Coombs). As amostras foram selecionadas de forma aleatória e proporcional ao número de doadores das macrorregiões atendidas por cada hemocentro regional/unidade de coleta e testadas com soro diluído 1:30. Em caso de resultado < 3+, a fenotipagem foi repetida com soro puro.

Foram avaliadas 8.600 amostras de doadores do HEMOSC, sendo que 31 apresentaram reatividade < 3+ com soro diluído. Cinco reproduziram o resultado com soro não diluído, sendo um doador do Hemocentro de Florianópolis, dois do HR de Criciúma e um do HR de Joinville com fenótipos Lan (+wk), com um doador Lan- também desse hemocentro e resultado a ser confirmado por genotipagem.

Apesar da literatura apresentar uma probabilidade de encontrar um doador Lan- ser menor que 1:20.000, nosso estudo encontrou um doador em 8.600 amostras. A imigração de diferentes povos e a miscigenação da população brasileira podem ser uma justificativa para os resultados encontrados. Mais estudos são necessários para determinar a prevalência do antígeno, assim como investigações genéticas para identificar as mutações mais comuns em nossa população. Os resultados indicaram que o fenótipo Lan- pode não apresentar uma frequência tão baixa no estado de Santa Catarina quanto estimado com base em estudos internacionais. Nosso estudo encontrou o primeiro doador Lan- que será capaz de integrar o CNSR e contribuir em futuras transfusões seguras para receptores Lan-.