HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia mielomonocítica crônica (LMMC) é uma neoplasia mieloproliferativa crônica não clássica, rara, cujos critérios diagnósticos foram atualizados, em 2022, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), incluindo as subpopulações monocitárias por citometria de fluxo, de sangue periférico, como critério diagnóstico auxiliar. O aumento de monócitos clássicos (MO1, CD14++/CD16-) ≥ 94% facilitou o diagnóstico diferencial entre as causas de monocitose, especialmente em cenários sem acesso fácil à biologia molecular.
ObjetivosDescrever a experiência de um serviço brasileiro laboratorial na aplicação do critério de subpopulações monocitárias, por citometria de fluxo, em pacientes com monocitose.
Material e métodosEstudo retrospectivo de 25 pacientes, com hipótese diagnóstica de LMMC, avaliados entre janeiro de 2022 e março de 2025. Foram analisados hemograma, cariótipo e BCR-ABL (quando disponíveis) e citometria de fluxo (IMUNF) de sangue periférico (n = 14) ou de medula óssea (n = 11). Painel de IMUNF utilizado: CD 3, CD4, CD8, CD11b, CD13, CD14, CD16, CD19, CD 33, CD 34, CD 36, CD45, CD 56, CD64, IREM, HLA-DR. As subpopulações monocitárias foram definidas como MO1 CD14++/CD16-, MO2 CD14+/CD16+ e MO3 CD14low-/CD16+). Classificou-se como “LMMC suspeita” pacientes com MO1 ≥94% e monocitose absoluta ≥1000/uL e ≥10% em sangue periférico.
ResultadosDos 25 pacientes, idade 15-87 anos, 4 (16%) apresentaram perfil imunofenotípico de sangue periférico sugestivo de LMMC, com MO1 ≥94% e em hemograma monócitos ≥1000/uL e ≥10%; em 1 deles, BCR-ABL negativo; e em outro cariótipo 46XY; nos outros 2 não havia dados moleculares. 4 (16%) tiveram padrão compatível com monocitose reacional, com aumento proporcional de MO2/MO3. Os 17 restantes (68%) permaneceram como “indeterminados” pelo critério de subpopulação monocitária imunofenotípico isolado.
Discussão e conclusãoO método de 'monocyte subset repartioning' descreve que uma proporção de monócitos clássicos ≥ 94% no sangue periférico é altamente sugestivo de LMMC e distingue com elevada acurácia a doença clonal de monocitoses reacionais. Em coortes publicadas, esse valor obteve alta sensibilidade e especificidade e foi replicado em diversos outros estudos, consolidando seu emprego como ferramenta diagnóstica acessível. Em nosso trabalho, a identificação de 16% de pacientes com "LMMC sugestiva" e de 16% com provável monocitose reacional, sustenta a aplicabilidade do método em um cenário real brasileiro. Contudo, há importante ressalva, 44% das amostras eram de medula óssea o que pode ter prejudicado a interpretação diagnóstica desses casos já que a subpopulação monocitária de medula óssea (MO) pode diferir da periferia e não é inclusa nos critérios diagnósticos; nenhum dos casos sugestivos de LMMC eram de MO. Além disso, a ausência de dados moleculares/citogenéticos em nossa coorte limita a capacidade de confirmação definitiva do diagnóstico conforme a OMS/2022. Estudos prévios que associaram padrões imunofenotípicos a mutações especificas indicam que a combinação de IMUNF + sequenciamento de nova geração (NGS) aumenta a precisão diagnostica e classificatória. Portanto, o uso da subpopulação monocitária por citometria de fluxo demonstrou potencial para auxiliar no diagnóstico diferencial entre as diferentes causas de monocitose, principalmente LMMC e monocitose reacional. Mesmo na ausência de testes moleculares, o critério ≥ 94% de monócitos clássicos por IMUNF mostrou-se capaz de direcionar a propedêutica para LMMC, confirmando o encontrado na literatura cientifica atual.




