HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosLeucemia mieloide aguda é uma neoplasia heterogênea, caracterizada pela proliferação clonal de precursores mieloides jovens na medula óssea, e eventualmente no sangue periférico e em outros tecidos. O tratamento da LMA associa quimioterapia, imunoterapia, terapia alvo e em alguns casos TCTH. O tratamento padrão de indução caracteriza-se pela combinação da antraciclina e citarabina, em esquema de 7+3. Antineoplásico antimetabólito, a citarabina é a utilizada sobretudo no tratamento de primeira linha de leucemias mieloides agudas e em tratamento de linfomas refratários. Segundo Sainz (2016), doses acima de 48 g/m2 podem desencadear ataxia cerebelar. Eventos que ocorrem com doses < 15 g/m2, são raros. A neurotoxicidade está associada à dose do quimioterápico, e, além disso, sua excreção ocorre pela via urinária- logo, a disfunção renal e a idade podem aumentar o risco de desenvolvimento da síndrome mesmo em uso de dose convencionais. A síndrome cerebelar caracteriza-se por um conjunto de sinais e sintomas relacionados à disfunção ou lesão do cerebelo ou das suas conexões. Clinicamente manifesta-se de acordo com a extensão e local do acometimento; mais comumente desenvolve-se ataxia (incoordenação de movimentos), dismetria (prejuízo na mensuração da amplitude dos movimentos) nistagmo (movimentos involuntários em globo ocular) e disartria (alteração na fala).
Descrição do CasoMulher, branca, 50 anos, católica, dona de casa, natural de Catarina - CE, procedente de São Paulo, sem comorbidades prévias, diagnosticada em 11/2024 com síndrome mielodisplásica, é admitida em sala de emergência por quadro de dor torácica associado à emese. Diagnosticada com choque séptico de foco à esclarecer e curva de troponina positiva por infarto agudo do miocárdio tipo II. Durante tratamento de choque distributivo, evolui com blastos no sangue periférico. Estudo medular compatível com Leucemia Mieloide Aguda - IMF 52,3% KT 92XXXX[5]/ 46XX[15] - alto risco. Indução realizada com altas doses de citarabina - sem realização de antraciclico pelo contexto de cardiomiopatia. Paciente evolui com Síndrome atáxica cerebelar (disartria e instabilidade axial) 72h após término da indução com HDAraC (3g 12/12h durante 3 dias). Ao exame neurológico paciente apresentava disartria e dismetria, a ressonância Magnética não identificou hemorragia intraparenquimatosa aguda/subaguda, coleções líquidas extra axiais, desvio das estruturas da linha média ou apagamento das cisternas da base. Cenário de alta suspeição para neurotoxicidade pela citarabina em alta dose, uma vez que paciente apresentou reversão de sintomas. Em concomitância, desenvolveu lesões cutâneas urticariformes difusas pelo corpo, com posterior descamação (medicamentoso?). Paciente evoluiu com remissão morfológica de doença de base - DRM negativa, FLT3 e NPM1 negativos, cariótipo 46XX [20]. Encaminhada para transplante de medula óssea haplo, não mieloablativo para terapia de consolidação.
ConclusãoApesar de raro, neurotoxicidade associada ao uso da citarabina em doses abaixo de 15 g/m2 foram descritas. Faz-se preciso reconhecer e identificar possíveis efeitos colaterais dos quimioterápicos a fim de plano terapêutico adequado, seja para garantir acesso a tecnologia dura, assistência multiprofissional, além de garantir decisão clínica assertiva em tempo ótimo.




