HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia linfoblástica aguda (LLA) é uma neoplasia caracterizada pela proliferação de linfoblastos imaturos. É a leucemia mais comum na infância, com cerca de 80% dos casos sendo de linhagem B. Os sintomas típicos resultam da disfunção medular, mas manifestações osteoarticulares, como artralgia, dor óssea e lesões osteolíticas, também podem ocorrer, muitas vezes antes dos achados hematológicos.
Descrição do casoPaciente masculino, 12 anos, encaminhado ao Hospital Geral de Caxias do Sul por febre persistente há cinco meses, associada à anorexia com perda ponderal estimada em 10% do peso corporal, sudorese noturna e linfonodomegalia cervical. Evoluiu com dorsalgia, letargia, edema articular, poliartrite e artralgia migratória, predominando em tornozelos, joelhos e coluna, com necessidade de analgesia endovenosa contínua. Exames laboratoriais iniciais revelaram hemoglobina de 8,3 g/dL, leucócitos de 6.800/mm3, plaquetas de 406.000/mm3 e sorologias infecciosas e reumatológicas negativas. A ressonância magnética da coluna lombo-sacral evidenciou heterogeneidade difusa do sinal da medula óssea em corpos vertebrais dorsais inferiores, lombares e sacrais, além de imagens nodulares compatíveis com lesões ósseas infiltrativas. Em atendimentos anteriores, pela suspeita de doença reumatológica, o paciente recebera pelo menos três cursos de corticoide documentados. O mielograma evidenciou infiltração por células imaturas em cerca de 80% da amostra, e a imunofenotipagem foi positiva para nTdT, marcador de imaturidade, e CD79a, marcador de linhagem B, compatível com LLA-B. Iniciado o protocolo poliquimioterápico baseado no BFM ALL 2009, observou-se melhora significativa da artralgia e resolução dos episódios febris. Após estabilização clínica, o paciente seguiu em acompanhamento ambulatorial.
ConclusãoEste relato evidencia uma apresentação atípica de LLA-B, com manifestações iniciais osteoarticulares, frequentemente confundidas com doenças reumatológicas ou infecciosas na infância. A persistência de artralgia migratória, poliartrite, febre prolongada e perda ponderal sem resposta ao tratamento sintomático deve sempre levantar suspeita para etiologias neoplásicas, mesmo na ausência de alterações hematológicas evidentes. Estudos indicam que até 30% das crianças com LLA apresentam sintomas músculo- esqueléticos no início da doença, muitas vezes precedendo os achados hematológicos clássicos (Barbosa et al., 2002), reforçando a importância de incluir a LLA-B no diagnóstico diferencial de crianças com sintomas osteoarticulares persistentes. No caso descrito, a ressonância magnética demonstrou lesões ósseas infiltrativas, quadro que pode causar dor significativa e destruição trabecular. Além disso, a prescrição indevida de corticoide pode ter tido papel importante no controle parcial da doença, que se perpetuou por cinco meses, possivelmente selecionando blastos mais resistentes e contribuindo para a apresentação atípica. A melhora clínica rápida após o início da quimioterapia, segundo o protocolo BFM ALL 2009, com resolução da febre e alívio da dor articular, aliado ao manejo multidisciplinar, reforça a importância do diagnóstico precoce e do início imediato do tratamento.




