HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO transplante alogênico de células-tronco hematopoéticas (TCTH) é essencial no tratamento de neoplasias hematológicas. No entanto, complicações como a doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH), resposta inflamatória em que células do enxerto atacam tecidos do receptor, seguem como preditores de morbimortalidade. A microbiota intestinal, por sua vez, atua como importante modulador imunológico nesse cenário.
ObjetivosAnalisar o impacto das alterações na microbiota intestinal, incidência, gravidade e prognóstico da DECH em pacientes submetidos ao TCTH, com ênfase nos mecanismos imunológicos envolvidos.
Material e métodosTrata-se de uma revisão integrativa da literatura nas bases PubMed e PubMed Central (PMC). Os descritores foram: Gut microbiota, Intestinal microbiome, Hematopoietic stem cell transplantation, Graft-versus-host disease e suas combinações. Foram incluídos artigos publicados dos últimos cinco anos, em inglês, com foco na relação entre microbiota intestinal e DECH. Ao final, 10 artigos foram selecionados por sua relevância e qualidade metodológica.
Resultados e discussãoDurante o TCTH, o regime de condicionamento, o uso intensivo de antibióticos, a imunossupressão, a nutrição parenteral e a mucosite contribuem para a ruptura da barreira intestinal e para alterações significativas na microbiota. Esse cenário favorece a ativação de células apresentadoras de antígenos (APCs) e a expansão de linfócitos T alorreativos, mecanismos centrais na patogênese da DECH. A perda precoce de comensais como Clostridiae e Blautia, com dominância de Enterococcus e Streptococcus, associa-se à maior incidência de DECH aguda, mortalidade pós-transplante e menor sobrevida. Estudos multicêntricos indicam que pacientes que preservam a diversidade da microbiota intestinal apresentam menor risco de infecções oportunistas e melhores desfechos clínicos, incluindo maior sobrevida a longo prazo. A integridade da mucosa intestinal está intimamente ligada à presença de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), especialmente butirato e propionato, produzidos por microrganismos comensais fermentadores de fibras. Esses metabólitos atuam na indução de células T reguladoras, na produção de IgA e na estimulação de citocinas como IL-22. Além disso, AGCC ativam receptores como GPR43 e regulam vias inflamatórias como o inflamassoma NLRP3. Em casos graves de DECH, a redução de butirato ultrapassa 90%, configurando um marcador de mau prognóstico e gravidade. Diante desse cenário, estratégias terapêuticas que modulam a microbiota intestinal têm se destacado. O TMF mostrou remissão em até 67% dos casos de DECH refratária. Outras estratégias promissoras incluem consórcios bacterianos, restrição de lactose e uso de prebióticos ou pós-bióticos.
ConclusãoA integridade da microbiota intestinal exerce papel fundamental na prevenção e modulação da DECH. Assim, a diversidade microbiana e os AGCC são cruciais na regulação imune e na manutenção epitelial. Por outro lado, a disbiose associa-se a maior incidência de DECH, mortalidade e complicações. Nesse contexto, a modulação do microbioma surge como estratégia promissora, embora demande validação clínica para uso sistemático na prática onco-hematológica.




