A doença renal crônica (DRC) é uma condição progressiva que frequentemente exige terapia dialítica, estando associada a complicações como a anemia. Essa anemia é multifatorial e decorre, principalmente, da deficiência de eritropoetina, da escassez de ferro e do estado inflamatório crônico. A não correção adequada do quadro anêmico compromete a qualidade de vida, eleva o risco cardiovascular e aumenta a necessidade de transfusões de sangue. Embora as transfusões melhorem temporariamente os níveis de hemoglobina, elas trazem riscos como aloinmunização, sobrecarga férrica e infecções. Assim, a terapia com agentes estimuladores de eritropoiese (AEE), como a alfaepoetina, e suplementos de ferro como o sacarato férrico, tornou-se o tratamento padrão para anemia na DRC. Esses medicamentos são disponibilizados no âmbito do componente especializado da assistência farmacêutica (CEAF), seguindo critérios estabelecidos em protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas (PCDT). A adoção de ferramentas de apoio à prescrição pode otimizar esse acesso e reduzir a dependência transfusional.

Avaliar o impacto da utilização da Matriz de Apoio à Prescrição de Medicamentos do CEAF no tratamento da anemia em pacientes dialíticos, com ênfase na redução da média mensal de transfusões de hemocomponentes.

Trata-se de um estudo observacional e retrospectivo realizado entre 2021 e 2024 em uma unidade de saúde do Sudoeste Goiano. Em 2022, a equipe de Assistência Farmacêutica e Tecnologia em Saúde da Macrorregional desenvolveu a “Matriz de Apoio”, uma ferramenta informatizada para suporte à prescrição de medicamentos do PCDT-DRC. A matriz utiliza parâmetros laboratoriais e histórico de deferimentos para sugerir os medicamentos adequados, promovendo prescrições mais assertivas e redução de indeferimentos. Foram analisadas as médias mensais de transfusões de hemocomponentes antes e após a implementação da ferramenta, considerando também a média mensal de pacientes em tratamento na unidade.

A partir da adoção da Matriz de Apoio, observou-se expressiva redução na necessidade de transfusões sanguíneas, mesmo com o aumento do número de pacientes em tratamento. Em 2021, a média mensal de hemocomponentes transfundidos foi de 674, com 278 pacientes atendidos. Em 2022, os dados apontaram 582 transfusões para 283 pacientes. Em 2023, foram registrados 497 hemocomponentes para 291 pacientes. Em 2024, esse número caiu para 354 transfusões mensais, com 293 pacientes em acompanhamento. Comparando 2021 com 2024, houve uma redução de 47,48% no número de hemocomponentes transfundidos, apesar do aumento de 5,4% na média de pacientes atendidos. Esses dados sugerem maior controle da anemia e menor necessidade de hemoterapia, resultantes do acesso ampliado e qualificado aos medicamentos do PCDT.

A implementação da Matriz de Apoio otimizou o processo de prescrição e acesso aos medicamentos do CEAF, promovendo melhor adesão ao tratamento da anemia na DRC. Como consequência, houve redução significativa na necessidade de transfusões sanguíneas, minimizando riscos ao paciente e promovendo uma abordagem terapêutica mais segura, eficaz e racional. A experiência reforça a importância de ferramentas tecnológicas na gestão clínica e farmacêutica, especialmente em condições complexas como a DRC.