HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA anemia é uma condição caracterizada pela redução da massa de hemoglobina e, portanto, da massa eritrocitária, o que compromete o transporte de oxigênio e impacta negativamente no desenvolvimento físico e cognitivo das crianças. Estima-se que cerca de 25% das crianças brasileiras menores de 5-anos apresentam essa condição, constituindo um importante problema de saúde pública. Estudos regionais apontam altas taxas de prevalência, especialmente em populações com maior vulnerabilidade social. Nesse contexto, o presente estudo busca contribuir para o conhecimento da prevalência e dos fatores associados à anemia em crianças pequenas.
ObjetivosEstimar a prevalência de anemia em crianças de 12 a 37 meses residentes na cidade de Ribeirão Preto ‒ São Paulo e analisar a associação com fatores biológicos, socioeconômicos e maternos.
Material e métodosTrata-se de um estudo prospectivo de base populacional, a partir da coorte de nascimentos de 2010 do estudo BRISA. Foram incluídas 3.079 crianças com dados completos de hemograma e informações coletadas por entrevista com as mães. A anemia foi definida como hemoglobina < 11 g/dL, segundo a Organização Mundial da Saúde. As variáveis analisadas incluíram: peso ao nascer, tipo de parto, sexo, cor da pele, idade da criança, frequência em creche, escolaridade materna, situação conjugal, história de anemia gestacional e classe econômica (segundo CEB). A associação entre essas variáveis e a presença de anemia foi avaliada por regressão de Poisson, com cálculo do Risco Relativo (IRR) e Intervalo de Confiança de 95%.
ResultadosA prevalência de anemia foi de 15,6%. Observou-se maior risco entre filhos de mães com baixa escolaridade (IRR ajustado = 2,37; 95% IC = 1,47–3,81), mães sem companheiro (IRR ajustado = 1,51; 95% IC = 1,16–1,95), crianças com idade entre 12 e 24 meses e aquelas pertencentes às classes D/E (IRR ajustado = 1,85; 95% IC = 1,35–2,54). A ausência de anemia materna na gestação foi fator protetor (IRR ajustado = 0,66; 95% IC = 0,53–0,81). Não houve associação significativa com sexo, cor, tipo de parto, peso ao nascer ou frequência à creche.
Discussão e conclusãoOs achados reforçam o papel dos determinantes sociais, como escolaridade e renda, na etiologia da anemia. A idade entre 12 e 24 meses, fase de elevada exigência nutricional, apresentou risco elevado, indicando necessidade de estratégias específicas para esse grupo. Embora o parto cesáreo inicialmente parecesse protetor, essa associação perdeu significância após o ajuste por fatores socioeconômicos, evidenciando possível viés de acesso aos serviços de saúde. Desse modo, conclui-se que a anemia em crianças de 12 a 37 meses permanece como um problema relevante de saúde pública. Os principais fatores associados foram de natureza socioeconômica e materna. Os resultados indicam a necessidade de políticas públicas que promovam educação materna, combate à desigualdade social e atenção nutricional continuada na primeira infância. Apesar da amostra robusta, trata-se de um recorte transversal dentro de uma coorte, limitando inferências causais e generalizações para outras populações.
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes e Protocolos: Relatório de Recomendação Anemia por Deficiência de Ferro. [Internet]. Brasília - DF; 2023.




