HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA infecção por citomegalovírus (CMV) é uma das principais complicações infecciosas em pacientes submetidos a transplantes de órgãos sólidos e de células-tronco hematopoiéticas. Sua capacidade de latência e reativação associada à imunossupressão, facilita a propagação viral após o transplante. O CMV pode causar desde infecções assintomáticas até doenças invasivas graves, como pneumonite, colite, retinite, úlceras e perda do enxerto, comprometendo a sobrevida do paciente e a função do órgão. A detecção de mutações associadas à resistência antiviral é essencial, pois essas alterações podem tornar a infecção refratária ao tratamento, agravando o quadro clínico e impactando negativamente a qualidade de vida dos pacientes. Diante disso, conhecer mutações do vírus circulante em nossa realidade não é apenas uma necessidade, é uma corrida contra o tempo para evitar falhas terapêuticas em pacientes que já enfrentam o limite entre risco e recuperação.
ObjetivosO objetivo é analisar e identificar possíveis mutações das regiões UL56 e UL54 que possam conferir resistência aos antivirais utilizados no tratamento do CMV.
Material e métodosSerão avaliadas 47 amostras de pacientes com carga viral para o citomegalovírus (CMV), com idades entre 19 e 70 anos, submetidos a transplante de fígado ou de medula óssea no Hospital das Clínicas da FMUSP. A técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR), foi utilizada para amplificar regiões alvo dos genes UL54 e UL56 do genoma viral. Foram utilizados primers específicos e validados, sob condições otimizadas de amplificação, assegurando a especificidade e reprodutibilidade dos resultados. Os produtos amplificados foram analisados por eletroforese e posteriormente submetidos ao sequenciamento pelo método de Sanger para a identificação de mutações associadas à resistência antiviral do CMV.
ResultadosDas 47 amostras provenientes de pacientes transplantados, foi possível obter amplificação positiva da região UL56 em 16 amostras (34%) e da região UL54 em 7 amostras (14,9%), por meio de reação em cadeia da polimerase (PCR). As amostras amplificadas serão posteriormente submetidas ao sequenciamento de Sanger, com o objetivo de verificar possíveis mutações. Esses dados preliminares demonstram a viabilidade da amplificação de regiões-alvo do CMV em amostras clínicas de receptores de transplante, representando um passo essencial para análises genotípicas subsequentes. Até o momento, algumas dessas amostras já foram sequenciadas, e não foram identificadas mutações associadas à resistência aos antivirais.
Discussão e conclusãoA detecção e monitoramento do citomegalovírus (CMV) em pacientes transplantados representam um desafio clínico importante, especialmente diante do risco de resistência antiviral. A identificação de mutações em regiões específicas do genoma viral, como UL54 e UL56, está diretamente associada à falha terapêutica e à necessidade de ajustes no tratamento. A escolha dessas regiões foi baseada em sua relevância descrita na literatura, por estarem associadas aos principais mecanismos de resistência aos antivirais atualmente utilizados, como o ganciclovir, foscarnet e o letermovir. Os dados obtidos, embora preliminares, reforçam a importância da triagem molecular em tempo oportuno, especialmente em contextos de carga viral persistente ou falha terapêutica. A possibilidade de identificar mutações com relevância clínica permanece em aberto, alimentando a expectativa por achados que possam influenciar diretamente o paciente.




