HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA policitemia é caracterizada pelo aumento da massa eritrocitária, acompanhado da hemoglobina e do hematócrito. Está dividida entre a policitemia vera, causada por mutações genéticas nas células produtoras de sangue da medula óssea, e a forma secundária, estando associada, entre diversos fatores, com tabagismo, DPOC e hipoxemia crônica. Em pacientes idosos com múltiplas comorbidades associadas, essas alterações podem ser subvalorizadas e acabar levando a complicações, como trombose, infarto e AVC.
Descrição do CasoRelato de Caso: I. F. B., 65 anos, sexo feminino, aposentada. Fazia acompanhamento ambulatorial frequente por apresentar histórico de diabetes tipo 2, dislipidemia, DPOC tabágico, hérnia de disco, DRGE refratária e ex-tabagista por 50 anos. Entre as queixas principais, dor torácica, dispneia, episódios de pré-síncope e sintomas gastrointestinais. Em um hemograma realizado em 2023, essa paciente apresentava um hematócrito de 42,1%, 4,82 milhões de eritrócitos/mm³ e uma hemoglobina de 13,5 g/dL. Em 2024 essa paciente retornou para acompanhamento e o hemograma realizado mostrou um hematócrito de 50,6%, 6,25 milhões de eritrócitos/mm³ e a hemoglobina em 16,4 g/dL. Na última vinda dessa paciente, em 2025, o hematócrito estava em 62,4%, 7,67 milhões de eritrócitos/mm³ e 19,0 g/dL de hemoglobina, contando ainda com anisocitose e policromasia. Além dos hemogramas, mostrando os índices cada vez mais elevados, o RX de tórax mostrava hiperinsuflação pulmonar e a espirometria tinha padrão obstrutivo moderado, além do uso crônico de broncodilatadores, sendo um caso bem característico de policitemia.
Discussãoos achados de hemoglobina aumentada e se elevando a cada ano deveria levantar uma hipótese de eritrocitose compensatória, especialmente tendo em vista ser uma paciente ex- tabagista com DPOC confirmada, levando a uma hipóxia crônica e, como resposta adaptativa, o corpo pode ter desenvolvida essa policitemia. As queixas de cefaleia, tontura, sudorese, pré-síncope, mesmo que sintomas inespecíficos, podem estar sendo exacerbados por conta da hiperviscosidade sanguínea, necessitando assim investigar a etiología dessa eritrocitose a fim de evitar complicações trombóticas ou cardiovasculares. Essa investigação deve ser feita com monitorização laboratorial periódica, adesão ao tratamento da DPOC e cessação definitiva do tabagismo, além da avaliação por hematologista, possibilitando o diagnóstico preciso. Ainda, no caso dessa paciente, deve-se realizar o sequenciamento à procura de mutações no gene JAK2 e JAK2V617F, para que se possa dizer, com maior precisão, se o caso se trata de uma policitemia Vera ou de causa secundária.
ConclusãoO caso apresentado evidencia a importância da atenção em parâmetros hematológicos, mesmo em pacientes com múltiplas comorbidades. A policitemia, mesmo que discreta inicialmente, pode levar a implicações clínicas importantes, especialmente em indivíduos que já possuem fatores de risco associados, como as doenças pulmonares e risco cardiovascular. O diagnóstico precoce e a investigação da causa podem auxiliar em condutas terapêuticas direcionados, prevenindo desfechos desfavoráveis ao paciente.
Referências:
Macedo J, Costa E, Barbot JN. Cláudia.Policitemia vera: a propósito de um caso clínico. Nascer e Crescer [online]. 2015;24(2):83-87.




