HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO vírus linfotrópico de células T humano tipo 1 (HTLV-1), identificado pela primeira vez no Japão em 1980, foi o primeiro retrovírus reconhecido como causador de doenças em humanos. Estudos indicam que sua circulação pode remontar a milhares de anos, e, atualmente, estima-se que milhões de pessoas estejam infectadas no mundo. Embora cerca de 90% dos portadores permaneçam assintomáticos durante toda a vida, a infecção pode evoluir para doenças graves e de alta letalidade, como a leucemia/linfoma de células T do adulto (ATLL), que corresponde a aproximadamente 3–5% dos casos. No Brasil, apesar do caráter endêmico do HTLV-1, a ATLL é raramente diagnosticada, provavelmente por subnotificação e subdiagnóstico, o que reforça a relevância de estudos que descrevam o perfil clínico, epidemiológico e laboratorial desses pacientes, possibilitando o desenvolvimento de estratégias de diagnóstico precoce e manejo mais efetivo.
ObjetivosO estudo realizado teve como objetivo descrever o perfil epidemiológico de pacientes com leucemia/linfoma associado ao vírus HTLV (ATLL) atendidos no ambulatório de hematologia do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), localizado no Rio de Janeiro, no período de 2012 a 2022.
Material e métodosTrata-se de um estudo retrospectivo baseado na análise de seis prontuários médicos de pacientes com diagnóstico confirmado de ATLL no período estabelecido. Foram avaliados dados demográficos, comorbidades associadas, métodos diagnósticos utilizados, manifestações clínicas, alterações laboratoriais, formas clínicas da doença, terapias instituídas e desfechos clínicos.
ResultadosOs resultados revelaram que os seis pacientes eram do sexo feminino, com idade média de aproximadamente 58 anos com desvio padrão de 12,84. Dentre as comorbidades presentes, destaca-se a paraparesia espástica tropical, também uma forma de apresentação da infecção pelo vírus HTLV-1. O diagnóstico de ATLL foi estabelecido por biópsia – linfonodo, medula óssea e pele – e imunofenotipagem. Leucocitose e hipercalcemia foram observadas em dois dos pacientes, com a forma aguda. Quanto à forma clínica, quatro pacientes apresentaram a forma linfomatosa da ATLL. Os sintomas variaram entre os pacientes, incluindo lesões cutâneas, linfonodomegalia e perda ponderal. Dois pacientes desenvolveram infecções oportunistas, como candidíase orofaríngea e herpes zoster. Os tratamentos utilizados seguiram protocolos estabelecidos, incluindo zidovudina com ou sem associação com interferon-alfa, fototerapia associada a metotrexato e protocolos quimioterápicos. A sobrevida global média foi de 13,33 meses e desvio padrão de 3,92, com a progressão da doença sendo a principal causa de óbito.
Discussão e conclusãoApesar do tamanho reduzido da amostra, os achados deste estudo se assemelham aos relatos descritos na literatura quanto ao perfil clínico e epidemiológico da ATLL, reafirmando seu caráter grave e prognóstico desfavorável. A elevada taxa de complicações e a curta sobrevida reforçam a necessidade de políticas públicas voltadas para a triagem sistemática da infecção pelo HTLV-1, especialmente em áreas endêmicas, bem como de estratégias de tratamento individualizadas e acompanhamento multiprofissional especializado.




