HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Leucemia Linfoide Aguda de células B (LLA-B) apresenta pior prognóstico em adultos, sendo a estratificação de risco essencial para guiar a intensidade terapêutica. Entre os marcadores moleculares, a deleção do gene IKZF1, especialmente quando associada a deleções de CDKN2A, CDKN2B, PAX5 ou PAR1 (perfil IKZF1plus), define um subgrupo de alto risco com maior probabilidade de recidiva e menor sobrevida global. A identificação precoce dessas alterações é um passo crítico no manejo.
Descrição do casoHomem, 21 anos, previamente hígido, apresentando dores difusas, cefaleia e febre. Realizou exames em outro país que revelaram hiperleucocitose (166.000/ µL; 89% blastos) e trombocitopenia (48.000/µL). Mielograma e imunofenotipagem do sangue periférico foram compatíveis com LLA-B (CD19+, CD10+, CD34+). Após pré-fase com corticoide, foi transferido ao nosso serviço, em que se confirmou infiltração medular por 90,8% de blastos linfoides (CD19+, CD10+, CD34+, cyCD79a+). A pesquisa de BCR-ABL foi negativa e seu cariótipo era normal. FISH detectou deleção de CDKN2A em 63% dos núcleos. NGS identificou fusão IKZF1::COBL. Por serem genes adjacentes no cromossomo 7, aventou-se deleção submicroscópica, sendo realizado MLPA que confirmou deleção monoalélica de IKZF1, caracterizando IKZF1plus. Iniciado protocolo GRAALL-2005, apresentando remissão morfológica após primeira fase da indução; entretanto, com doença residual mensurável (DRM) positiva (0,068% por citometria). Frente ao perfil molecular de alto risco e DRM positiva, indicou- se TMO alogênico em primeira remissão.
ConclusãoO caso evidencia a heterogeneidade biológica da LLA-B do adulto e a relevância da análise molecular aprofundada. Apesar de apresentação clínica e imunofenótipo usuais, a definição do perfil IKZF1plus, impossível por intermédio de cariótipo e FISH isolados, foi decisiva. Essa alteração, associada a maior risco de recaída, justificou intensificação terapêutica, especialmente diante da persistência de DRM após a indução. A combinação desses dois fatores prognósticos adversos torna improvável a cura com quimioterapia isolada, fundamentando a indicação precoce de TMO. O diagnóstico molecular integrado (NGS + MLPA) permitiu a classificação precisa e a antecipação da decisão terapêutica, evitando atrasos que poderiam comprometer o prognóstico. Este relato reforça a necessidade de integrar testes moleculares abrangentes à avaliação inicial da LLA-B no adulto. A identificação de perfis de alto risco, como o IKZF1plus, é determinante para uma estratificação prognóstica acurada e para a personalização da terapia. A indicação precoce de TMO, guiada por esses achados, exemplifica como a medicina de precisão pode otimizar as chances de cura em pacientes jovens com LLA-B de alto risco.




