HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA mielofibrose (MF) é uma neoplasia mieloproliferativa crônica caracterizada por citopenias, esplenomegalia e sintomas constitucionais, frequentemente associada a mutações em JAK2, CALR ou MPL. O momelotinibe, inibidor de JAK1, JAK2 e ACVR1, apresenta potencial benefício para controle de sintomas, redução da esplenomegalia e melhora da anemia, incluindo diminuição da dependência transfusional. Embora os ensaios clínicos tenham demonstrado benefícios, dados do mundo real, especialmente na América Latina, ainda são limitados.
ObjetivosDescrever o perfil clínico e os desfechos iniciais do tratamento com momelotinibe em pacientes com MF de risco intermediário-2 ou alto risco tratados na UNIFESP por meio de um programa de acesso expandido.
Material e métodosEstudo prospectivo e observacional realizado no Ambulatório de Neoplasias Mieloproliferativas da UNIFESP. Foram incluídos pacientes com MF de risco intermediário-2 ou alto risco pelo DIPSS-Plus e hemoglobina inferior a 10 g/dL, sem uso prévio de inibidores de JAK2. Todos receberam momelotinibe (200 mg/dia) via programa de acesso expandido da GSK. Foram avaliados dados demográficos, perfil mutacional, resposta hematológica (aumento ≥1 g/dL de hemoglobina e/ou redução da dependência transfusional) e eventos adversos. O acompanhamento médio foi de 4 meses.
ResultadosForam incluídos 10 pacientes, todos do sexo masculino, com idade média de 76,4 anos (64–86). Oito apresentavam MF primária e dois MF pós-trombocitemia essencial. A mutação JAK2 foi identificada em 60%, CALR em 20% e 20% eram triplo-negativos. Em relação à variação de hemoglobina (Hb), após 4 meses de tratamento, 44% apresentaram aumento igual ou superior a 1 g/dL. Entre os quatro pacientes inicialmente dependentes de transfusão, dois tornaram-se independentes e dois mantiveram dependência, mas com redução na frequência transfusional. Eventos adversos grau 1–2 incluíram tontura (n = 1), diarreia transitória (n = 1) e epigastralgia (n = 1). Dois pacientes apresentaram eventos grau 3 (neutropenia e plaquetopenia), com resolução após redução da dose para 150 mg/dia. Três pacientes foram a óbito durante o seguimento: evolução para leucemia mieloide aguda após quatro meses de tratamento (n = 1), neurocriptococose após 45 dias de tratamento (n = 1) e choque séptico de foco pulmonar após dois meses de tratamento (n = 1). Todos apresentavam comorbidades relevantes.
Discussão e conclusãoEm cenário de vida real, o momelotinibe demonstrou benefício hematológico precoce, com aumento dos níveis de hemoglobina e redução da carga transfusional em pacientes idosos e de alto risco. O perfil de segurança foi compatível com a literatura, embora eventos graves e óbitos tenham ocorrido em pacientes com doença avançada e comorbidades graves. O seguimento prolongado será necessário para avaliar a durabilidade da resposta e a segurança em longo prazo.




