HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA doença falciforme é caracterizada por um processo inflamatório crônico, principalmente devido a ocorrência de hemólise intravascular decorrente da falcização que libera heme e hemoglobina, causando um estresse oxidativo. O principal recurso terapêutico é a transfusão, que tem como função melhorar a capacidade de transporte de oxigênio, porém pode ocasionar reações transfusionais decorrentes da aloimunização.
ObjetivosAvaliar o perfil de expressão diferencial de genes associados à resposta inflamatória em pacientes com doença falciforme.
Material e métodosForam selecionadas 20 amostras de pacientes com doença falciforme provenientes do biobanco da Fundação Pró-Sangue. O Grupo 1 não aloimunizado (n = 10) foi composto por indivíduos que receberam no mínimo três transfusões de concentrado de hemácias sem o desenvolvimento de anticorpos eritrocitários e o Grupo 2 aloimunizado (n = 10) inclui a presença de anticorpos. A quantidade de concentrado de hemácias recebidos variou de 20‒240 unidades no Grupo 1 e de 9‒212 no Grupo 2. Os aloanticorpos desenvolvidos nos pacientes do Grupo 2 apresentaram especificidades para os sistemas de grupos sanguíneos Rh, Kell, Duffy, Kidd e MNS. O teste RT2 Profiler PCR Array (QIAGEN®) foi utilizado para a quantificação de citocinas, quimiocinas, interleucinas e seus respectivos receptores inflamatórios humanos. Foram analisados 84 genes alvo e para fins estatísticos, foram realizados dois ensaios em amostras de doadores saudáveis definidos como grupo controle. As análises estatísticas foram realizadas utilizando o sistema GeneGlobe (QIAGEN®), e a linguagem de programação Python versão 3.10.
ResultadosNa análise dos dados em fold regulation comparando os grupos 1 e 2 com o grupo controle, os genes CXCR2, IL1R1, SPP1 e TNFRS11B tiveram expressão aumentada no Grupo 1. No Grupo 2, o gene CCL13 teve expressão aumentada enquanto os genes CXCL2 e IL13 tiverem expressão inferior. Porém, quando aplicado o teste estatístico de t de Welch (p<0,05), nenhum desses genes foram significativos. Entretanto, os genes CCR6, CCR8 e CXCL12 foram significativos na comparação entre o Grupo 2 e o grupo controle, e apenas o gene CXCL10 foi significativo na comparação entre o Grupo 1 e o grupo controle.
Discussão e conclusãoA análise de expressão gênica revelou padrões distintos de regulação entre os grupos avaliados, refletindo potenciais diferenças nos mecanismos imunológicos entre os grupos. No Grupo 1, o gene CXCR2 é um importante mediador da quimiotaxia de neutrófilos, o IL1R1 atua como receptor central de interleucinas pró-inflamatórias e os genes SPP1 e TNFRSF11B são associados à regulação de inflamação. No Grupo 2, a significância estatística de CCR6, CCR8 e CXCL12 reforça o envolvimento de mecanismos relacionados à migração de células T e à organização tecidual imune e são expressos em subconjuntos específicos de linfócitos e células dendríticas, sugerindo uma possível modulação da resposta adaptativa, enquanto CXCL12 é um mediador conhecido da retenção e mobilização celular em nichos imunológicos e hematopoiéticos. Esses achados indicam que o perfil observado nos genes estatisticamente relevantes é consistente com vias imunes bem definidas e pode refletir alterações funcionais reais no contexto biológico analisado. Além disso, esse perfil pode auxiliar na compreensão dos mecanismos envolvidos na aloimunização e orientar estratégias terapêuticas individualizadas, contribuindo para a redução do risco de reações transfusionais em pacientes com doença falciforme.




