HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA hemofilia B (HB) é uma coagulopatia rara por deficiência de fator IX (FIX), caracterizada por sangramentos espontâneos ou após traumas leves. Sangramentos articulares são comuns e podem provocar artropatia hemofílica, com dor crônica, síndrome de imobilidade e pior qualidade de vida (QV). O tratamento tradicional da HB consiste na reposição de FIX para tratar (episódico) ou evitar (profilaxia) sangramentos. A profilaxia está relacionada com preservação da saúde articular, melhor QV e menor mortalidade. Contudo, até 5% dos casos desenvolvem anticorpos neutralizantes contra o FIX (inibidores), que ainda podem desencadear reações anafiláticas. Assim, nas pessoas com HB e inibidor (PcHBi), a efetividade do FIX é comprometida, com maior risco de sangramento e suas complicações. O tratamento exige agentes de bypass (ABp), sendo o fator VII ativado recombinante (rFVIIa) a única opção segura, pois o complexo protrombínico parcialmente ativado (CCPa) contém FIX e pode causar anafilaxia. Além disso, a indução de imunotolerância tem baixo sucesso e associa-se a complicações como síndrome nefrótica. Diante dessas limitações, o tratamento das PcHBi permanece restrito.
ObjetivosO objetivo desta revisão de escopo foi descrever as novas terapias não-fator para PcHBi.
Material e métodosFez-se uma revisão em base de dados da literatura até junho/2025 utilizando os termos “hemofilia B” e “inibidor”. Foram selecionadas publicações que descrevessem o tratamento de PcHBi com produtos pró-coagulantes não-fator.
Discussão e ConclusãoO concizumabe é um anticorpo monoclonal contra o inibidor da via do fator tissular. O estudo de fase 3 explorer4 mostrou que a administração diária de concizumabe em pessoas com hemofilia A e inibidores (PcHAi)/PcHBi reduz a taxa de sangramento anualizada (TAS), em relação ao tratamento episódico exclusivo. No estudo de fase 3 explorer7, a TAS de PcHBi em profilaxia diária com fitusiran reduziu em 70%, quando comparada ao tratamento episódico. Além disso, no explorer7, a profilaxia com concizumabe melhorou a QV em PcHAi/PcHBi. Eventos tromboembólicos não fatais ocorreram inicialmente, mas não se repetiram após ajuste da dose. O fitusiran é um RNA de interferência que reduz a expressão da Antitrombina (AT). O estudo de fase 1 em PcHAi/PcHBi mostrou redução da atividade da AT com perfil adequado de segurança. No estudo de fase 2, PcHA/PcHB (com ou sem inibidores) em tratamento episódico receberam doses mensais de fitusiran, ajustadas posteriormente para bimestrais, com redução de 98% da TAS. Houve 2 casos de trombose (1 em PcHBi), além de toxicidade hepática e biliar. Com a introdução do regime baseado na atividade da AT, houve redução de eventos graves. No estudo de fase 3 ATLAS-INH, a TAS, em PcHBi com aplicação mensal de fitusiran, foi um décimo da TAS observada no tratamento episódico. No estudo de fase 3 ATLAS-PPX, a TAS em PcHA/PcHB (com ou sem inibidores) em profilaxia mensal com fitusiran foi 60% a TAS observada na profilaxia com fatores, porém, para PcHBi, não houve diferença estatística. Embora o fitusiran tenha melhorado a qualidade de vida em comparação à profilaxia com fatores, ele foi associado à hepatotoxicidade e a eventos tromboembólicos não fatais. Portanto, apesar da baixa representatividade de PcHBi nos estudos, as novas terapias não-fator para profilaxia são promissoras ao propor maior facilidade e flexibilidade de administração. Entretanto, o perfil de segurança, em especial do fitusiran, merece melhor avaliação em PcHBi.




