HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosRelatar caso de paciente jovem com bicitopenia crônica, posteriormente diagnosticada com neoplasia mielodisplásica de baixo risco, que evoluiu com infecção invasiva por Fusarium verticillioides em via aérea superior, exigindo tratamento antifúngico sistêmico e intervenção cirúrgica.
Materiais e métodosRevisão de dados clínicos, laboratoriais, histopatológicos, microbiológicos e de imagem obtidos do prontuário eletrônico, com descrição cronológica da evolução.
Relato de casoMulher, 28 anos, histórico de infecções recorrentes desde a infância e esplenomegalia homogênea. Em 2022, apresentou neutropenia grave persistente (960/mm³, 86 neutrófilos) e plaquetopenia leve. Primeira biópsia de medula: normocelularidade, discretas alterações displásicas, ausência de fibrose. Investigação ampla excluiu causas infecciosas, autoimunes, congênitas e carenciais; painel genético para neutropenia congênita foi negativo. HLA mostrou compatibilidade com irmão. Iniciado G-CSF semanal, com recuperação transitória da neutrofilia (> 14.000/mm³). Em 2024, houve perda de resposta. Nova biópsia revelou hipoplasia eritroide/megacariocítica, displasia leve nas três linhagens, < 2% de blastos CD34+, IPSS muito baixo risco. Em maio/2025, internou com dispneia, febre e hemoptise. TC de tórax: infiltrados bilaterais, vidro fosco, cavitação e espessamento traqueal. Cultura de escarro: Pseudomonas aeruginosa sensível a levofloxacino/meropenem. Tratada com meropenem, alta após 10 dias. Em julho/2025, apresentou tosse intensa, estridor e pancitopenia. TC: estenose traqueal e lesão polipoide em prega vocal esquerda. Cultura de escarro e biópsia confirmaram Fusarium verticillioides. Iniciado voriconazol IV (6 mg/kg 12/12h, depois 4 mg/kg 12/12h) e substituição do meropenem por levofloxacino VO. Realizada ressecção cirúrgica da lesão e traqueostomia para proteção de via aérea. Pós-operatório complicado por convulsão, broncoaspiração e necessidade de UTI. Fibrobroncoscopia posterior evidenciou laringite edematosa, estenose traqueal moderada e alterações inflamatórias e cicatriciais brônquicas. Manteve-se em antifúngico prolongado e suporte com G-CSF.
DiscussãoNeutropenia grave crônica, mesmo associada a neoplasia mielodisplásica de baixo risco, aumenta substancialmente o risco de infecções oportunistas raras. Fusarium verticillioides é patógeno filamentoso pouco frequente, porém altamente agressivo, capaz de invadir tecidos respiratórios e disseminar hematogenamente, com mortalidade elevada em imunossuprimidos. O tratamento de escolha é voriconazol, frequentemente associado à necessidade de intervenção cirúrgica para remoção de foco infeccioso e restauração de permeabilidade de via aérea. A persistência da imunossupressão e a dificuldade de erradicação completa do fungo constituem desafios terapêuticos. Neste caso, a abordagem multidisciplinar envolvendo hematologia, infectologia, otorrinolaringologia e cirurgia de cabeça e pescoço foi essencial para estabilização clínica. O controle de citopenias com G-CSF e vigilância laboratorial frequente são fundamentais para reduzir risco de recorrência e novas infecções.
ConclusãoO caso evidencia a importância de investigação etiológica ampla em citopenias crônicas, a vigilância contínua em pacientes imunossuprimidos e a necessidade de resposta rápida diante de infecções raras e graves, combinando antifúngico sistêmico, suporte hematológico e cirurgia para otimizar o prognóstico.




