A triagem clínica pré-doação é um componente essencial no processo de segurança transfusional, pois permite identificar condições de saúde e comportamentos que possam comprometer a integridade do doador ou a segurança do receptor. No Brasil, esse processo é regulado pela Portaria de Consolidação n° 5/2017 do Ministério da Saúde, exigindo avaliação rigorosa e padronizada. Os motivos de inaptidão clínica variam desde distúrbios hematológicos e cardiovasculares até situações comportamentais ou uso de substâncias que contraindiquem temporária ou definitivamente a doação.

Analisar retrospectivamente os principais motivos de inaptidão clínica identificados no Centro de Hemoterapia de Sergipe (HEMOSE), no período de 2020 a 2024, com o intuito de subsidiar estratégias de qualificação da triagem, educação em saúde e ampliação da taxa de doadores aptos.

Trata-se de um estudo descritivo e retrospectivo, baseado em dados secundários obtidos do sistema informatizado do HEMOSE. Foram considerados todos os registros de candidatos à doação considerados inaptos por motivos clínicos entre 02 de janeiro de 2020 e 30 de dezembro de 2024. Os dados foram organizados e analisados em planilhas eletrônicas, categorizados por tipo de inaptidão e representados graficamente com base na frequência acumulada por motivo. Utilizou-se o Python 3.11 para geração dos gráficos estatísticos. No período analisado, o HEMOSE registrou um total de 29.300 inaptidões clínicas, com predominância dos seguintes motivos: Hemoglobina/Hematócrito Baixo – 8.704 casos; Hipertensão Arterial – 2.496 casos; Uso de Medicamentos – 1.504 casos; Tatuagem, Piercing, Acupuntura ou Maquiagem Definitiva há menos de 1 ano – 1.750 casos 5. Pulso >100 bpm – 1.456 casos; Uso de Antibióticos nos últimos 30 dias – 1.286 casos; Jejum prolongado – 1.189 casos; Hemoglobina/Hematócrito Alto – 1.130 casos; Relações sexuais de risco sem preservativo – 868 casos; Estado Gripal – 734 casos.

Os achados confirmam a hemoglobina/hematócrito baixo como o principal fator de inaptidão clínica no HEMOSE, fenômeno amplamente descrito na literatura como prevalente entre doadores do sexo feminino, jovens e com alimentação desequilibrada. A hipertensão arterial desponta como o segundo motivo, refletindo tanto a alta prevalência da doença na população geral quanto falhas na adesão ao tratamento regular. O uso de medicamentos representa um desafio recorrente, muitas vezes associado à automedicação ou ausência de esclarecimento prévio sobre a compatibilidade com a doação. Motivos comportamentais e circunstanciais, como jejum, uso recente de antibióticos, e relações sexuais de risco, também demonstram a importância de ações educativas contínuas, a fim de reduzir inaptidões . A análise dos dados de 2020 a 2024 revela que causas hematológicas, cardiovasculares e medicamentosas são as principais responsáveis pela inaptidão clínica de candidatos à doação no HEMOSE. A implementação de campanhas educativas, a ampliação do suporte nutricional e clínico aos doadores, bem como a modernização dos protocolos de triagem, são estratégias fundamentais.