HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO mieloma múltiplo (MM) é uma neoplasia de células plasmocitárias que afeta predominantemente idosos, com mediana de idade ao diagnóstico em torno de 69 anos. Casos em adultos jovens são raros, representando menos de 2% dos casos, o que geralmente leva a um retardo diagnóstico devido à baixa suspeição. Nessa população, a doença frequentemente pode ter comportamento biológico atípico e apresentação clínica mais agressiva. Este relato descreve um caso de MM Ig Kappa em paciente de 23 anos, com alto grau de comprometimento medular e extensa infiltração óssea.
Descrição do casoPaciente do sexo masculino, 23 anos, sem comorbidades prévias, trabalhador em tinturaria com exposição a solventes e corantes, apresentou quadro de dor lombar intermitente por dois anos, com piora progressiva, limitação de marcha e perda de força em membros inferiores. Procurou assistência médica repetidas vezes sem diagnóstico definitivo. Foi encaminhado a serviço especializado após achados de anemia leve, alterações ósseas radiológicas e presença de proteína monoclonal em exames. Exames laboratoriais iniciais mostraram hemoglobina de 10,2 g/dL, creatinina 1,2 mg/dL, ausência de hipercalcemia, albumina 3,8 g/dL e β2-microglobulina de 1,58 mg/L. A eletroforese de proteínas séricas revelou pico monoclonal de 8,7 g/dL na fração gama, e a imunofixação identificou componente IgG-Kappa. A relação Kappa/Lambda era de 66,7. A tomografia computadorizada de corpo inteiro evidenciou múltiplas lesões osteolíticas envolvendo calota craniana, clavículas, escápulas, arcos costais, esterno, coluna toracolombar, pelve e ossos longos, com fraturas patológicas em T10 a L3. A ressonância magnética confirmou infiltração óssea difusa e lesão expansiva em T11 com discreta redução do canal vertebral, sem compressão medular. O mielograma apresentava 90% de células plasmocitárias. A biópsia óssea revelou infiltração de 90% por plasmócitos maduros, além de fibrose grau 2. A imunohistoquímica medular mostrou positividade difusa para CD138, cadeia leve kappa, CD20 e ciclina D1, com negatividade para CD56 e CD117. Estabelecido o diagnóstico de mieloma múltiplo IgG Kappa, variante linfocitoide / de pequenas células. O estadiamento foi classificado como Durie & Salmon IIIA e ISS I. O paciente foi tratado em centro de referência do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo submetido à terapia de indução com o esquema VCD (bortezomibe, ciclofosfamida e dexametasona). Posteriormente, ajustado para VTD (bortezomibe, talidomida e dexametasona), com boa tolerância e resposta parcial. Foi encaminhado para avaliação de transplante de medula óssea autólogo, visando a consolidação da resposta.
ConclusãoO presente relato ilustra um caso incomum de mieloma múltiplo IgG kappa em paciente jovem, caracterizado por elevada carga tumoral, extenso comprometimento esquelético e imunofenótipo atípico, com expressão de CD20 e ciclina D1 e ausência de CD56. O diagnóstico foi postergado devido à baixa suspeição clínica inicial, apesar de sintomas persistentes. O caso reforça a importância de considerar MM mesmo em faixas etárias não usuais diante de sintomas musculoesqueléticos prolongados e achados laboratoriais sugestivos. Ressalta-se, adicionalmente, o histórico ocupacional do paciente, com exposição a solventes e corantes em ambiente de trabalho, condição descrita na literatura como potencial fator de risco para o desenvolvimento de neoplasias hematológicas.




